Não, não se trata do placard final do último dérbi entre regimes sanguinários. Nem foi o resultado da resolução aprovada recentemente pela União Europeia, que colocou comunismo e nazismo em pé de igualdade por terem causado perda de vidas e de liberdade numa escala nunca vista na história da humanidade. Resolução que, portanto, terminou em empate. Não, trata-se mesmo do número de deputados portugueses que preconizam cada uma destas ideologias congéneres, fontes de tantas e tantas alegrias. Sendo muito pouco expectável que André Ventura faça o tento de honra para o nazismo, fica a curiosidade de saber quantos segundos levará Joacine Moreira a dilatar o marcador para a turma comunista, avolumando ainda mais a já de si histórica goleada. Seja como for, congratulemo-nos por este espectáculo em que as redes abanam tantas vezes.

Fora desta contenda, mas desde logo a pontuar no campeonato da incongruência parva, esteve a Iniciativa Liberal. Assim que chegou ao parlamento, o novel deputado João Cotrim Figueiredo protagonizou, imediatamente, uma Rui Rioada: vai-se a ver e, afinal, a IL também não é de direita. Isto apesar de ter feito uma campanha eleitoral inteirinha propalando (e foi propalação da boa, diga-se) que Portugal precisa de um modelo oposto ao socialismo. Conclusão, o recém-eleito deputado da IL não queria sentar-se do lado contrário dos socialistas — o direito –, mas sim rigorosamente a meio do hemiciclo. Ou seja, ainda antes de aquecer a cadeira, Cotrim Figueiredo já exigia outra cadeira, não fosse alguém imaginá-lo apreciador do trabalho daquele indivíduo que acabou por falecer após malhar de uma cadeira.

E já que mencionei Rui Rio, diga-se que o líder do PSD apresentou a recandidatura à presidência do partido e anunciou que será líder da bancada parlamentar. Julgo fazer todo o sentido. Politicamente, seria um desperdício os sociais-democratas não aproveitarem toda a experiência que Rui Rio acumulou nos últimos quatro anos a assistir, da bancada, sem nunca ir a jogo, ao formidável desempenho de António Costa. Além de que, a confirmar-se este cenário, poderemos estar perante fina ironia: talvez seja necessário Rui Rio estar na bancada para finalmente provar que não é apenas um líder da oposição de bancada.

À margem de toda esta sorte de polémicas, António Costa escolheu um novo e grande governo. Infelizmente, o governo não é “grande” no sentido que a palavra tem na frase “Parabéns, António, escolheste um ganda governo, pá!” Não, o novo elenco governativo é “grande” mas como em “extenso”, “longo”, ou mesmo “comprido”. Não como em “magnífico”, muito menos como em “extraordinário” e rigorosamente nada como em “fabuloso”. Mas este executivo tem o essencial, atenção. Que mais podíamos pedir, num país em que o peso do estado sufoca diariamente cidadãos e empresas, do que um consentâneo maior governo de sempre da história da democracia portuguesa? Pelo menos a mim não me ocorre nada mais apropriado.

Desta vez, no entanto, António Costa não permitiu aquela bandalheira de haver maridos e mulheres no governo. Ainda assim, a verdade é que, como se comprova pelo gigantismo do novo executivo, esta medida chegou tarde de mais. Foram tantos e tantos anos a fomentar este género de promiscuidade familiar, que os socialistas foram-se reproduzindo ao ponto de, hoje em dia, estarmos perante esta autêntica praga de ministros e secretários de estado. E isto agora é coisa que não vai lá nem com um jerricã de cinquenta litros de Baygon.

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