Há pessoas que partem do princípio da confiança no estabelecimento das suas relações, enquanto outras, pelo contrário, desconfiam primeiro, até provas em contrário. Uns mais rápidos a atirar-se de cabeça para as situações. Outros, precisam de algum/muito tempo de ponderação para dar um primeiro passo. Tal um conhecido jogo lúdico, em que uns são capazes de fechar os olhos e deixarem-se cair para trás esperando ser segurados pelo outro versus aqueles que mal fecham os olhos disparam as pestanas e viram-se para rectificar a distância a que estão de quem os vai segurar, deixando-se eventualmente um pouco cambalear mas sem conseguirem deixar-se tombar. Confiantes uns, desconfiados outros. Seguros e audazes versus receosos e hesitantes.

Como em tudo na vida, há que haver um equilíbrio entre o poder confiar e desconfiar. Ora, não devemos atirar-nos confiantes em queda livre perante o risco do abismo. Devemos considerar a noção do perigo e saber proteger-nos. Mas, também não devemos petrificar perante a possibilidade de descobrir coisas novas, mesmo que diferentes e desconhecidas. Devemos encontrar o meio termo entre os extremos da precipitação/impulsividade e a precaução/extrema ponderação.

As primeiras experiências de vida são fundamentais para a construção da noção de confiança. Quanto mais satisfatório o ambiente envolvente, mais a criança se sente segura e confiante. Vários psicanalistas, tais como Erik Erikson (pós freudiano), Donald Winnicott (pediatra também, para além de psicanalista, com grande expressão nos anos 40/50/60), Françoise Dolto (pediatra e psicanalista com grande intervenção nos meios de comunicação social em França, nos anos 50/60/70), dedicaram-se bastante aos temas sobre o desenvolvimento infantil, tal como a construção da confiança psicológica. Todos defendendo, com base na sua vasta experiência clínica, que a segurança prestada pelos pais influencia o modo como se dá  o amadurecimento confiante na criança em crescimento. Sabemos que muito das inseguranças sentidas na vida adulta baseiam-se em momentos de falência de uma sólida rectaguarda emocional, de uma carência de cuidados.

Sem cair na ingenuidade de confiar às cegas, permitir-se confiar, é abrir espaço para a construção de ligações. É deixar fluir o livre arbítrio. Desconfiar muito leva a perder oportunidades de conhecer e dar-se a conhecer.  Ao lado da desconfiança, surge um certo ímpeto de antecipar e controlar. E tal, poderá ser tão desgastante como motor de estados mais ansiosos. O medo de não saber o que vai acontecer a seguir pode inibir seguir em frente ou deixar aprofundar desafios uma nova relação.

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À medida que se acumula experiência relacional e se avança na idade, podem acontecer desilusões que contribuem para passar do modo confiar a desconfiar. De desenvolver uma pistantrofobia. Um tipo de fobia em voltar a confiar nos outros devido a um medo intenso de reviver um trauma do passado, na sequência de uma  quebra de confiança. Afinal, gato escaldado de água fria tem medo, como diz o ditado. Mas, ser capaz de fazer uso da mesma experiência para ler o contexto e as pessoas, pode ajudar a discernir se pode confiar e deixar-se aproximar ou desconfiar e afastar-se.

A confiança em si próprio é o principal ingrediente para se sentir seguro e estável. Ter noção das suas potencialidades e dos seus limites é fazer uso de uma bússola interna que ajuda a indicar qual o caminho a escolher, em vez de, por exemplo, fugir da possibilidade de estabelecer relações mais profundas com os outros, aceitar desafios e responsabilidades laborais, ingressar numa aventura sem grandes medos.

anaeduardoribeiro@sapo.pt