Há limites para o disparate, ainda que venha da boca de um deputado democraticamente eleito.

Dou os parabéns a André Ventura. Nas ultimas eleições legislativas ele conseguiu ser eleito e eu não. Tenho pena porque gostaria de estar no parlamento para lhe dar a resposta que todo o centro-direita lhe devia ter dado, particularmente os que defendem os princípios da democracia cristã.

Uma cimeira para definir regras para o confinamento dos ciganos? Mas que disparate é este Sr. Ventura? Talvez este tipo de parvoíce seja bom para agitar a populaça e arregimentar mais umas intenções de voto para as sondagens.

Quando Pilatos perguntou à populaça ululante o que devia fazer a Jesus pois “não encontrei nele mal algum”, o povo anónimo gritou: “Crucifica-o” e, como sabemos, Pilatos lavou as mãos e entregou-lhes Jesus para o crucificarem.

A maioria política naquele momento mandou, mas como sabemos não teve a palavra final. Jesus ressuscitou ao terceiro dia.

O recém-nascido deputado Ventura anda deslumbrado a achar que as vozes de burro chegam ao céu e infelizmente os partidos do centro-direita andam perdidos sem saber o que fazer e têm medo de mandar o André Ventura para confinamento, porque é politicamente incorrecto.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Tão preocupado que está com os ciganos e com o mal que representam para a saúde pública, André Ventura esquece-se de olhar para os dramas que atravessam a sociedade portuguesa por estes dias.

O que já disse o Sr. Deputado sobre as muitas pessoas em situação de sem abrigo que deambulam pelas cidades portuguesas, sem qualquer tipo de proteção para se protegerem a si e aos outros?

Quantas IPSS e outras respostas da sociedade civil o Sr. deputado já visitou e de que forma tem sido porta-voz dos seus problemas e das suas necessidades, numa altura em que o estado está mais preocupado em ocupar o espaço da sociedade civil do que em facilitar o trabalho daqueles que há muito dão resposta às necessidades dos portugueses?

Quantos pobres conhece? Com quantos empresários falou para saber das suas necessidades e que propostas fazer para que Portugal possa ser um país mais amigo do trabalho e das empresas?

Quais são as suas propostas para o país real? Ou o seu programa resume-se a mandar uns para a prisão deixando-os lá o resto da vida sem hipótese de remissão e outros para o confinamento numa espécie de novos guetos, para já, para ciganos e depois logo se vê para quem mais?

Tenho pena de não poder pedir o seu confinamento em pleno parlamento, mas os portugueses não decidiram assim.

De qualquer forma desta tribuna digo-lhe Sr. Ventura: Tenha juízo! Podem não estar no parlamento, mas à direita no espectro político em Portugal ainda há quem não tenha complexos nem medo do seu discurso bacoco. E quando olhar para as sondagens nunca se esqueça que os votos que tiver corresponderão sempre aos votos da populaça ululante e não daqueles que, podendo ser poucos, sabem o que é o respeito pelo ser humano e como se constroem sociedades civilizadas.

O senhor Ventura até pode achar que está na moda, mas mais cedo do que tarde se verá que a moda que representa já passou de moda, com tristíssimos resultados na primeira metade do século XX