Para o anquilosado sistema partidário português, que se repete sem diferenças de maior desde o 25 de Abril, o único abismo político perante o qual os partidos vacilam é o das eleições. Ganhar ou perder é tudo, seja de que maneira for, embora haja variantes na maneira de ganhar, como sabemos por experiência. De há décadas para cá, sempre a subir apesar de algumas limpezas irregulares dos cadernos eleitorais, o maior «partido» é de longe o dos abstencionistas, sobretudo se adicionados aos votos brancos e nulos, que são a mesma coisa em mais zangado…

Nas eleições mais recentes, isto é, nas legislativas de 2015 abstiveram-se e votaram em branco ou nulo 48% dos inscritos; nas presidenciais desse mesmo ano, 53,50%; e nas municipais de 2017, virtualmente metade (49,59%). Esta é a principal razão da dificuldade em fazer sondagens minimamente confiáveis em Portugal. A segunda são os limitados recursos investidos neste complexo exercício, bastando comparar com os vastos e complexos estudos aplicados em França com sistemas eleitorais bem mais complicados do que os nossos.

O resultado desta situação é que só os mais convictos da altura confiam a sua intenção de voto às sondagens, sem se saber o que lhes acontecerá até à votação. A prova do que estou a dizer é um estudo de 2002, com base num inquérito realizado após as legislativas desse ano, que deram lugar a um governo de coligação PSD-CDS, com uma abstenção próxima de 40%. Ora bem, 15% dos inquiridos declararam então ter votado, o que era impossível em face dos números reais. Dei-me então ao trabalho de verificar em quem esses falsos votantes alegavam ter votado. Ora bem, se fosse realmente o caso, o PS teria ganho as eleições…

Isto mostra a grande volatilidade do eleitorado português entre o voto e a abstenção, além da chamada transferência entre partidos. Quanto às diferenças verificadas na última sondagem da Aximage, estão todas dentro da margem de erro, não dando portanto garantia estatística. O único facto que parece significativo é a baixa contínua das intenções de voto no PS, o qual está hoje mais longe da maioria absoluta do que estave há um ano. Calcula-se porquê.

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Ignora-se, porém, o cansaço de fatias do eleitorado perante as promessas repetidas pelo governo e muitas vezes não cumpridas ou cumpridas com contrapartidas que deixam tudo na mesma ou pior. O crescimento inicial do PS já se inverteu e continuará seguramente a diminuir, conforme todos os sinais vinham indicando há vários meses, com a machadada do fim do «bodo aos pobres» oferecido pelo BCE. O fim do dinheiro barato é irreversível!

O fundamental é essa mistura própria ao PS de reverter as políticas conforme as pressões corporativas dos eleitores, com danos que já se podem observar não só na educação, onde as greves são seguramente antipáticas à generalidade do eleitorado, mas das quais o PS não consegue afastar sua a responsabilidade, começando a perder em dois tabuleiros ao mesmo tempo: para a esquerda e para a direita.

A crise na saúde, que mobiliza parte dos profissionais, afecta sobretudo a fracção das pessoas mais velhas, ficando o PS de novo entre a espada e a parede. Não será a nova «lei de bases» que alterará aquilo que só se pode designar pela crescente perda de confiança do PS, cuja ambição de conquistar a maioria absoluta o levou a assumir a responsabilidade por tudo quanto de bom e de mau pretende ter feito, procurando seduzir gregos e troianos, quando o que costuma acontecer é o contrário!

Pelo seu lado, a previsível decomposição do PSD sob a batuta do novo líder, imposta por interesses obscuros em fuga baldada aos ditames da realidade internacional, torna-o cada vez mais sedutor ao PS institucional, como era intenção do golpe lançado após a retirada de Passos Coelho. Daqui às eleições, o grande problema do PS será, pois, prometer o fim da «geringonça» sem que as muletas do governo – o PCP, o BE e os seus eleitorados – lhe venham a negar uma maioria que o PS já só poderá fazer com Rui Rio e o seu desordenado exército, ao qual será necessário pagar o respectivo óbulo, o qual já só pode sair do bolso dos clientes do BE, PCP e sobretudo da CGTP… Entretanto, enquanto o PS tergiversa e o PSD se inclina, não é impossível que o CDS ganhe votos.

Não creio que sejam palavras do Presidente da República, sonoras mas vazias de conteúdo e de força vinculativa, que comoverão os eleitores. O único favor que o PR poderia fazer ao PS era arranjar um pretexto qualquer para fazer cair o Governo, antes que o capital por ele amealhado se derreta. Criando o medo do vazio, não é impossível que o PS recuperasse parte das perdas sofridas. Mas não é provável.

Em compensação, é certo que já não há mais «reversões» nem investimentos tornados impossíveis devido aos gastos do Governo e, sobretudo, ao clima inimigo. Entretanto, o preço do petróleo aumenta mas o imposto diminui. A guerra comercial só pode desestabilizar um sector transaccionável já de si débil como o nosso e não será o protelado aprofundamento da UE que irá ajudar. Está em marcha a contagem decrescente!