Quando uma turma é descrita como “demasiado competitiva”, seja pelos adolescentes como pelos pais, fico alarmado. Não que a competição na escola faça mal; antes pelo contrário. Mas porque isso pressupõe uma aragem de “competição selvagem” que nos deve preocupar. Ou porque há uma ou outra mãe a fazer de “entidade reguladora” aos resultados de todos os testes e a infernizar o seu filho, a exigir explicações a alguns dos seus colegas e a pedir contas a alguns professores em nome de uma nota que nunca a satisfaz. Ou porque os miúdos, entre si, passam a cultivar a deslealdade, quando se trata de cooperarem, e a não esclarecer entre si as dúvidas que tenham, ou a recusarem-se a facultar os apontamentos de uma das aulas a um colega a que tenha faltado. Ou porque — muito pior! — os comentários vaidosos em relação aos seus desempenhos e os apartes jocosos, a propósito dos colegas com dificuldades, proliferam.

Houve uma altura em que as turmas de “científico-naturais” eram as campeãs deste tipo de competitividade. Incentivado por muitas escolas! Desde a constituição das turmas, à qualidade dos professores que lhes atribuíam e aos cuidados que tinham para com elas. Como se essas turmas fossem “classe A” e as outras fossem só “as outras”. Mas, agora, esta deriva “democratizou-se”. E este tipo de competitividade tornou-se mais transversal. E é uma pena que seja assim.

A competição faz-nos crescer. Quer quando competimos connosco. Como quando competimos com os nossos colegas. Ou quando competimos com uma ideia enganadora que um professor tenha feito a nosso respeito. Seja como for, quando todos condescendemos com as turmas “demasiado competitivas” e nos vergamos a algumas dessas notas como se fossem o único barómetro da inteligência, a escola está “perdida”. Em primeiro lugar, porque (muitas vezes!) elas premeiam muito mais os alunos “marrões”. Depois, porque não acarinham quem põe dúvidas, enquanto acolhem quem repete melhor. E, ainda, porque, entre a criatividade e a reprodução “mecânica” de conhecimentos, as notas “gostam mais” dos alunos que citam do que daqueles que criam.

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