“Quero eu e a Natureza/que a Natureza sou eu/e as forças da Natureza/nunca ninguém as venceu.”
(António Gedeão, 1958)

Está aí mais uma COP. Juntando mais de uma centena de líderes mundiais, trata-se da vigésima sexta reunião, em três décadas, da Conferência das Partes, juntando os signatários da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, emanada da Cimeira do Rio de 1992.

O filme é há muito conhecido: uma visão catastrofista, muito mediatismo, metas ambiciosas, compromissos acordados, e a partir daí, poucos resultados práticos do que pomposamente se promete, ao ponto de já nem os ambientalistas acreditarem que dali possa sair algo diferente.

Sabemos a causa, a solução, só falta a vontade política de seguir a ciência em vez de negacionismo e superar assim o nosso maior desafio, ouviremos durante estes dias, por entre cenários trágicos contrapostos ao clima estável que queremos preservar e que a terra nos dará em troca da nossa vida harmoniosa para com ela. Um pensamento tão preocupado e assustador, quanto ingénuo e inconsequente.

Que o clima está a mudar? É consensual. Um consenso que até passou de 97 para 99% — sim há quem se dedique a estudar inutilidades… O clima estável nunca existiu nem nunca existirá, e ainda bem: é sintomático de um planeta dinâmico, estabilizar é morrer. Que há influência humana nessa mudança, também parece evidente – sabemos que os seres vivos têm impacto sobre o ambiente, a notoriedade dos nossos, descobrimos o efeito de estufa, gases que para elem contribuem, e temos consciência de que as nossas ações têm-los emitido. Mas que muito falta saber, é algo de que devíamos no mínimo desconfiar,  sobretudo quando lidamos com um sistema altamente complexo, dado o histórico de ruturas de paradigma, e mesmo as previsões falhadas de muitos que se julgaram no auge do conhecimento. Exemplos de questões em aberto? Os recentes dados de satélite que sugerem que os GEE apenas contribuíram com 1/9 do aquecimento nas últimas duas décadas ( aqui, aqui e aqui), a recém descoberta da influência da Lua no ciclo do metano, a hipótese de um Antropoceno ancestral (Neolítico), a teoria das nuvens, etc…

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Estamos longe de saber claramente o quanto vale a nossa influência. Que a temperatura subiu 1°C desde a era industrial? É mais ou menos certo. Todavia, se tivermos em conta que também o clima após um período quente, o Ótimo Medieval, com temperaturas semelhantes às atuais, está de saída do período frio em que esteve mergulhado até ao século XIX, a Pequena Idade do Gelo, o nosso contributo relativiza-se… Depois, vem a constatação mais óbvia: influenciar é uma coisa, controlar é outra bem diferente. Até porque, independentemente do resultado final incerto, destas políticas decorrem impactos na vida das pessoas e, como tal, gera-se um inevitável confronto desta preocupação com um conjunto de muitas outras que nos apoquentam.

Racionalizar o debate muitos frutos podia trazer, ao invés da radicalização reinante. Tudo tem servido de prova visível das Alterações Climáticas – fogos, cheias, etc. – o que tem dado imenso jeito para mascarar outros problemas, como sejam políticas, mudanças orgânicas, legislação, etc. ineficientes e problemas que se agravam. Evitar a mudança climática pode ser impossível, adaptarmo-nos a ela não é. E problemas como a falta de gestão florestal, a construção em leito de cheia, etc., continuam por resolver no presente, resolvê-los é uma necessidade com ou sem mudança do clima. Mas faltam recursos. Como recursos faltam à eficiência, investigação, inovação ou desenvolvimento tecnológico, áreas que podem ser a chave – como foram tantas e tantas vezes ao longo da nossa história – para o nosso sucesso. Lá virão as asneiras do costume sobre dinheiro, por aqueles que acham que não se deve incluir nas políticas pois nasce no multibanco.

Sim, é porque a tal transição os trata de sorver, e cujos custos, e naturalmente daí, constrangimentos, que esses sim, começam a ser visíveis: a crise energética na zelosa Europa está aí. A dependência energética face ao estrangeiro aumenta, os preços escalam, os cortes pairam no horizonte, a poluição é em parte exportada – como se não fosse global – mas com ela vai à indústria e seu o emprego, o custo de vida aumenta, a produtividade diminui, os pobres são dos mais atingidos, o frio de inverno e o calor de verão matam. E isto ainda é só um pequeno vislumbre.

Política, negócios, carreiras, crenças, alimentarão os tempos que se seguem. Nuvens negras pairam efetivamente sobre nós: andar para trás na Europa com a Europa a andar para trás no mundo. Quer isso dizer que estamos condenados ao inferno? Bem, como também é costume em todos estes eventos, vem sempre um próximo a dizer que “ainda vamos a tempo, temos é que começar já”. Nada de novo…