Os países europeus nunca estiveram tão unidos face a um problema estrutural. Neste que é o 72.º aniversário da Declaração Schuman, recuemos uns anos, imediatamente antes da pandemia. Nessa altura, apesar do progresso natural enquanto União Europeia, a generalidade dos países desbravava o seu próprio caminho, com mais ou menos dependência do corpo central de governação europeu, muitas vezes numa jornada em que os outros 26 estados-membros apareciam talvez como companheiros de aventura, mas nunca como parceiros na verdadeira missão europeia.

Foi então que chegaram os confinamentos, que nos “trancaram” de fora das nossas vidas normais durante praticamente dois anos. No meio do impacto global que esta doença trouxe, existirá algo de positivo a destacar? Sou da opinião que sim. A meu ver, o avassalo coletivo que experienciámos apenas serviu para fortalecer a cooperação e entreajuda na União Europeia – resultado do impacto sentido em todas as camadas da sociedade.

A nível da indústria, como se pode ler no relatório de março de 2021 do Policy Department for Economic, Scientific and Quality of Life Policies do Parlamento Europeu, a estrada para a recuperação económica da indústria assentava numa palavra-chave: resiliência. Este documento salientava ainda a necessidade de “ter em plena conta as características económicas e sectoriais específicas subjacentes. Caso contrário, [as medidas] podem revelar-se a vacina errada”.

Chegados a 2022, com praticamente todos os setores da sociedade e economia apenas a começar a recuperar, eis que espoleta a guerra na Ucrânia. A nível industrial, o impacto sentido pelas cadeias de logística e transportes, pelo setor da energia, a escalada dos preços de materiais e matérias-primas e a incerteza constante dos mercados começaram, por via de serem diretamente afetados pela escalada do conflito, a “chegar” a casa dos restantes cidadãos europeus. Todos nós já o sentimos o custo de vida a aumentar, desde abastecer o carro às idas ao supermercado.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Esta conjugação de crises que estamos a experienciar é algo inédito e vem apenas reforçar a necessidade de colocar realmente a palavra União em União Europeia. Aqui, as tecnológicas europeias terão um papel preponderante. É imperativa a busca pelas resoluções aos problemas, que advêm da atual conjuntura, através de um prisma que coloque os problemas societais em primeiro plano.

O aspeto da indústria tecnológica pode não ser apenas o caminho para minimizar alguns destes impactos, mas também para criar uma Europa nova, virada para as pessoas e para a melhoria das suas condições de vida. A visão para a inovação social que, na minha opinião, é agora requerido das tecnológicas a operar no Velho Continente está alinhada com a noção de Sociedade 5.0: a tecnologia em si só será relevante se convertermos o seu uso para benefício conjunto dos cidadãos europeus.

O caminho é passível de ser trilhado. Coragem é a palavra-chave que empregaria. Não ficar sempre um passo atrás, mas realmente procurar ser disruptor e inovar a favor da sociedade europeia. Já dizia Albert Einstein: “não resolvemos os nossos problemas com o mesmo pensamento com o que os criamos”.