Hoje vota-se no Reino Unido, e eu ando a ler uma biografia do mais chato, desinteressante e monocrómico homem que provavelmente o mundo já conheceu. E se fosse só isso… É ainda alguém que, durante a vida toda, escolheu invariavelmente adoptar algumas das mais detestáveis causas do século XX e do século XXI, daquelas que conduzem directamente ao terror e à miséria das sociedades humanas. Estou a falar de Jeremy Corbyn. A biografia, Dangerous Hero, foi escrita e publicada este ano por Tom Bower. Que esta criatura se arrisque a ganhar as eleições, ou sequer a conseguir impedir Boris Johnson de obter a maioria absoluta, é uma das maiores ameaças que se colocou nos últimos anos à paz dos povos e ao bem-estar mundial.
Como muita gente de extrema-esquerda, Corbyn entrou no Labour para, a partir de dentro, destruir a social-democracia e a substituir pelo marxismo puro e duro. O chamado “entrismo”, particularmente praticado pelos trotskystas, era uma táctica vulgar por essa Europa fora, sendo talvez o caso mais célebre o de Lionel Jospin no Partido Socialista francês. A coisa, como de costume, foi teorizada desde o início, com o particular génio para a brutalidade que o caracterizava, por Lénine: “Sustenham o Labour Party como a corda sustém o homem enforcado”, disse a Sylvia Pankhurst, que havia acolhido a primeira reunião do Partido Comunista inglês. Desde então, os chefes trabalhistas procuraram contrariar os “entristas”, apesar de, em momentos de inexplicável relaxamento, como quando Harold Wilson estava à frente do Labour, o “entrismo” tivesse proliferado. Jeremy Corbyn foi um “entrista” e chegou a chefe trabalhista graças ao “entrismo”.
Ler a biografia de Corbyn é cruzarmo-nos com um grupo de indivíduos pouco recomendáveis: Tony Benn, a figura tutelar, Ralph Miliband (o pai de Ed e David), Tariq Ali, Ken Livingstone, George Galloway ou John McDonnell. Profundamente ignorante (voltarei a isto no fim), Corbyn absorveu de todos eles os rudimentos de marxismo que nunca por si próprio aprendeu. E o desprezo pela democracia parlamentar, que, com a excepção de Benn (mesmo que, como dizia Harold Wilson, tenha ficado cada vez mais imaturo com a idade – he immatured with age), todos partilhavam. Para Tariq Ali o parlamento deveria ser abolido; para Ralph Miliband, totalmente ignorado na luta pelo socialismo; para John McDonnell, o mais próximo de Corbyn e ministro das finanças do seu governo-sombra, um governo conservador representa uma “ditadura eleita” e “temos o direito democrático de usar quaisquer meios” para o derrubar – e, interrogado sobre o que faria se pudesse voltar atrás no tempo, respondeu que gostaria de voltar aos anos 80 e “assassinar Thatcher”… Entre muita outra coisa.
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