O mundo vive um período exigente da sua história com impacto nas mais diversas dimensões das nossas vidas. Face a um inimigo silencioso, mais rapidamente do que seria expectável, Portugal e os Portugueses entraram em modo StartUp. Confrontados com os desafios e em busca de soluções em território desconhecido, iniciou-se uma transformação com potencial para, após esta tempestade, continuar a impactar, sustentável e positivamente, a comunidade.

O sentido de propósito, pouco valorizado nos contextos de trabalho, uniu diversos profissionais que se encontram na linha da frente. A força de vencer suplanta o medo do desconhecido. O sentido de propósito é agora mais valorizado, sendo fundamental este foco para a maximização de benefícios atuais e futuros, em nome próprio, mas também da comunidade.

A disrupção nos modelos de negócio foi acelerada. Empresas de maior e menor dimensão, confrontadas com modelos de negócio obsoletos e propostas de valor pouco competitivas, centravam-se em longos exercícios de planeamento estratégico e processos de tomada de decisão extremamente hierarquizados, rapidamente perceberam que o cenário futuro acontece já amanhã e que a capacidade rápida de experimentação e adaptação são basilares. Experimentamos e falhamos, por isso importa que este exercício seja ágil e focado, com a energia necessária para encontrar espaços em territórios não explorados.

As entidades empregadoras viram-se obrigadas a adaptar e agilizar práticas e políticas que gritavam por urgência, em choque com uma cultura, tantas vezes, pouco orientada ao bem-estar e equilíbrio dos colaboradores e, consequentemente, ao sucesso. Esta implementação em regime de experimentação, precisa, agora, de ser acelerada e motor de evolução organizacional. Tal como Darwin afirmava, sobrevivem aqueles que melhor (e mais rapidamente!) se adaptam.

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Escolas, professores e alunos garantiram, num par de semanas, uma mudança nos modelos de ensino- aprendizagem que se perspetivava difícil num horizonte temporal aceitável. Interessa agora, de forma disruptiva e estruturante, garantir esta evolução numa dimensão tão fundamental como a Educação.

Indivíduos e comunidades juntaram esforços num extraordinário trabalho colaborativo, e da combustão de talentos distintos, rapidamente se improvisaram novas soluções, tecnológicas ou não, com impacto verdadeiramente direto e urgente na vida das pessoas.

A comunidade demonstrou maior respeito pelo outro, munindo-se das “armas” necessárias para apoiar no combate a este inimigo que, de tão silencioso, torna-se verdadeiramente ensurdecedor. Muitos dos bons exemplos que surgiram evidenciam a robustez do povo Português, no que toca aos seus princípios, valores e capacidade de execução.

Estamos, segundo os indicadores de saúde, num caminho positivo, ainda que as “marcas” fiquem invisíveis em muitas famílias pela perda de entes queridos e dificuldades decorrentes dos impactos sociais e económicos. Não me atrevo, portanto, a dizer que vai ficar tudo bem. No entanto, tudo poderá ficar melhor do que imaginávamos, se cada um fizer a sua parte num movimento pela aceleração de comportamentos, transformação e sustentabilidade de iniciativas que ainda agora começaram.

A união da humanidade à tecnologia será essencial, de braço dado numa corrida contra o tempo. Bem orquestrada, a tecnologia poderá ser catalisadora para muitos destes desafios, sendo fundamental democratizar o seu acesso, apostar na literacia digital e evidenciar, aos mais ou menos graúdos, que a tecnologia, quando humanizada, traz claros benefícios para todos.

Importa que esta transformação fique na memória e no ritmo do dia a dia, mantendo-se o sentido de propósito, colaboração, criatividade, experimentação, abertura ao erro, inovação, exploração de novos territórios, agilidade, eficiência, rapidez na execução e muita resiliência. Portugal tem de continuar em modo StartUp.

Filipa Ferreira é formada em Psicologia, iniciou desde cedo o seu percurso profissional na área das Organizações. Com foco no lado humano dos negócios, procura valorizar o potencial das pessoas nos diferentes níveis organizacionais para promover o negócio e construir um futuro sustentável para as empresas com as quais trabalha. A nível profissional, equilibra o tempo em funções de gestão de recursos humanos a nível corporativo, com funções de consultoria em pequenas e médias empresas e trabalhos de investigação a nível universitário e docência em escolas de negócios. Os livros, as viagens, os amigos e a maternidade como o mais recente projeto de relações humanas, tornam o seu dia sempre cheio.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.