No seu livro “Efeitos Secundários”, Woody Allen fala de um tal Needleman, uma excêntrica personagem que certa vez, na ópera, se debruçou demais no camarote e caiu no fosso da orquestra. Demasiado orgulhoso para admitir que fora por engano, passou o mês seguinte a ir todas as noites e a atirar-se do camarote.

Esta história faz lembrar a forma como o PS fala de habitação: prefere arriscar parecer pateta a admitir que governou mal.

Sempre que o tema é a habitação, notam-se três problemas no discurso do PS: falta de memória, perseguição e incorrigibilidade.

A falta de memória é óbvia. O PS esquece-se recorrentemente do tempo em que governou um dos municípios do país onde o acesso à habitação enfrenta mais entraves: Lisboa. Esquece-se das opções que tomou e do que poderia ter feito para evitar a crise que hoje se vive. Fala enquanto espectador, quando foi o maior contribuidor para o estado a que a habitação chegou na cidade.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A perseguição também. A raiva a quem tem qualquer coisa de seu e que não depende do Estado não é apenas um traço do PCP e do Bloco. O PS tem sido igual. Atacam o Alojamento Local, os proprietários, os senhorios, os organismos de investimentos coletivo, os privados no geral. Na verdade, só descansarão quando todos dependermos da esmola pública.

Finalmente, o PS mostra-se incorrigível quando fala de habitação. É um efeito dos outros dois problemas, porque quem não tem memória não aprenderá com os erros; e quem governa com preconceito nunca terá lucidez.

Partindo do princípio de que os preconceitos são difíceis de perder, só consigo ajudar o Partido Socialista a corrigir os problemas de memória. Por isso, importa destacar alguns números lisboetas que os socialistas jamais podem esquecer.

Nos últimos dias, têm-se falado muito em Lisboa na Carta Municipal da Habitação. As estatísticas da década socialista são pavorosas. A dupla António Costa e Fernando Medina foi responsável pelos piores números da habitação nos últimos cem anos na capital. De 2010 a 2020, uma negra década socialista, o número de fogos construídos e com chave entregue foi 164. Nem sequer chega a dezassete casas por ano. O PS é responsável pela pior média anual de habitações construídas nos últimos cem anos. Um vergonhoso legado: Não é sequer 10% dos piores números do Estado Novo nos anos 30.

Claro que os socialistas gostam de mascarar estes números: “não fizemos, mas encaminhámos”. Ora, se contarmos com os fogos do Bairro da Cruz Vermelha, iniciados pelo PS mas apenas terminados no mandato PSD/CDS na autarquia, ainda assim a média é anedótica: sobe para trinta fogos por ano.

Claro que os socialistas voltam à carga e contra-atacam: “não fizemos habitação social, mas comprámos muitas habitações”. Nem isso é justo afirmar, porque a gestão socialista vendeu tantos imóveis que há um saldo negativo de 800 casas. Com o PS foi assim: benefício máximo da especulação imobiliária.

É a verdade dura dos números do INE, confirmados pelos serviços municipais: aqueles que agora se proclamam enquanto paladinos do direito à habitação, floreando a sua agenda com pacotes e consultas públicas, foram os mesmos que estagnaram o parque habitacional público e desbarataram o património camarário.

Felizmente, hoje há indicadores mais sorridentes para apresentar. Por exemplo, em 2022 foram 1250 as famílias ajudadas em termos de habitação. Não se atingia esse número há doze anos.

Aos que ainda acreditam no Partido Socialista, há um par de perguntas simples que deve ser feito: como podem Costa e Medina ser a solução para Portugal, quando foram a ruína de Lisboa? Como podem preconizar uma resposta à emergência habitacional, quando nada fizeram nos últimos 7 anos de governação nacional?

Num país onde muito se aprecia atribuir a paternidade de certas políticas aos seus protagonistas, os dois anteriores Presidentes da Câmara de Lisboa já sabem a denominação que lhes espera: a pior habitação do século.