E ainda há quem diga que não se aprende nada com esta crónica. Pois bem, esta semana eu aprendi que existe o conceito de speed dating debate. Ou seja, utiliza-se o formato daqueles encontros rápidos para arranjar parceiro romântico, o speed dating, para debater temas de outras naturezas muito menos interessantes que a romântica. O que acaba por ser muito semelhante ao modelo dos debates da campanha para as eleições de 30 de Janeiro: são uma coisa tão curtinha, mas tão curtinha, que os líderes partidários nem tempo têm para não apresentar as inexistentes propostas dos seus partidos para o país.

A única coisa que retive dos debates foi mesmo a forma como António Costa aproveitou os seus encontros com Jerónimo de Sousa e Catarina Martins para pôr termo ao romance iniciado em 2015, aquando do derrube do muro que separava o PS dos comunistas. Constata-se agora que os líderes do PCP e do BE deviam ter retirado o entulho do muro derrubado, porque Costa pegou nos calhaus que para lá ficaram e arremessou-os, sem dó nem piedade, aos seus pretéritos amásios.

Apesar dos debates passarem na bisga, é impossível não reparar no quanto se tem falado do salário mínimo nacional. Como bem referiu Luís Rosa, “as propostas dos partidos de esquerda para o ordenado mínimo parecem uma licitação de feirantes”:

“O PCP propõe 850 euros em 2023. 850 euros. O PS dá 900 euros em 2026. 900 euros. Alguém dá mais? Sim! O Livre dá 1000 euros em 2026. 1000 euros. Ora, 1000 euros uma… 1000 euros duas… Será que ficamos nos 1000 euros do Livre? Não! Que o Bloco de Esquerda dá 1032 euros em 2026! Arrematado pelo Bloco de Esquerda, o novo salário mínimo nacional!”

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A mim isto faz-me lembrar aquele programa da televisão em que se licitam unidades de auto-armazenamento abandonadas. Os compradores adquirem as arrecadações e só depois vêem se o que há lá dentro dá para pagar a despesa em que incorreram. A única diferença entre o Storage Wars e a licitação que os partidos de esquerda fazem do salário mínimo é que no Storage Wars, às vezes, ainda encontram uns colchões usados e uns pares de meias velhas para pagar o investimento.

Em termos de salário mínimo, e embora não me recorde estupendamente das equações de primeiro grau, creio que a formulação é esta:

Salários Até Já Bons + Esquerdismo = Salários Mínimos

Sendo que, neste caso, a incógnita são os Salários Até Já Bons. Um tipo de vencimento mais raro de encontrar no nosso país do que de encontrar vida noutro planeta. Em contrapartida, os Salários Mínimos são uma praga que aflige cada vez mais portugueses. Enquanto Esquerdismo é o nome genérico dado àquelas políticas que a História teima em demonstrar conduzirem a salários de miséria. Mas isto porque a História, inveterada pessimista, insiste em não querer acreditar que serão estes nossos líderes esquerdistas, enfim, a provarem ao mundo como o igualitarismo pode ser profícuo. Ou a provarem, de novo, como o igualitarismo conduz à bancarrota. O que acontecer primeiro. A bancarrota, portanto.

Ainda assim, e em nome da mais elementar justiça, vejo-me obrigado a referir que Portugal só não atingirá níveis de rendimento jamais experimentados nestas paragens porque a campanha eleitoral para as legislativas só durará mais duas semanas. Se calha esta campanha durar, não míseras quatro semanas, mas seis meses, como a histórica Campanha da Rússia liderada por Napoleão, ao ritmo a que os partidos de esquerda propõem aumentos do salário mínimo, na segunda-feira pós eleições o ordenado mínimo português estava ao nível do ordenado médio dos dinamarqueses. Dos dinamarqueses todos somados, atenção.

Isto sem contar com a possibilidade de, tal como aconteceu às tropas francesas na infame Campanha da Rússia, também numa hipotética campanha eleitoral de seis meses falecerem alguns 80% dos portugueses. Neste caso de tédio. Não tanto às mãos de russos, do frio e da fomeca, como sucedeu aos franciús. Em circunstâncias tão favoráveis como estas, rapidamente os nossos moralmente sublimes virtuosos do igualitarismo concluiriam: “Espera. Faleceram 8 em cada 10 portugueses? Então os 2 portugueses que sobreviveram podem passar a receber o salário mínimo dos que patinaram! Ou seja, podemos aumentar o salário mínimo em… em… em imensos por cento!” É aquela dificuldade típica dos moralmente sublimes virtuosos do igualitarismo fazerem contas. Já falei de bancarrota, não falei?