A sobredotação é um tema ao qual ainda não se tem dado atenção suficiente em Portugal. No entanto, três a cinco crianças em cada cem terão capacidades excecionais.

No nosso país, nas salas de aula do ensino básico e secundário estarão mais de 60 mil alunos, pelo que existirão 1800, no mínimo, que serão sobredotados. A maioria não foi identificada, logo, como poderão estes alunos ser devidamente atendidos?

Por exemplo, uma tarefa escolar que poderia levar, usualmente, 10 minutos a ser concluída, uma criança sobredotada pode terminá-la em 3 minutos, o que significa uma diferença de 7 minutos, que pode ser multiplicada pelo número de tarefas pedidas ao longo de uma manhã, de um dia, e que pode perfazer, ao fim de cada semana, uma grande quantidade de tempo. Se este tempo for aproveitado, a criança, em primeiro lugar, mas também os colegas, os professores e os pais agradecem, pois, no final de contas, todos lucrarão se isso acontecer. Dependendo da personalidade da criança, se estes minutos, que se transformam em horas, não forem bem utilizados, as consequências, a curto, médio e longo prazo poderão ser devastadoras.

A sobredotação não é um estado homogéneo. Não se pode falar de um perfil único de sobredotação. Como todas as crianças, estas apresentam diferenças individuais entre si e só através do estudo apropriado de cada uma delas, após uma avaliação, é que se poderá proporcionar uma educação adequada. Para que estes alunos possam ser detetados nas salas de aula é crucial a formação para todos os professores no âmbito da sobredotação e a articulação com os serviços de psicologia das instituições educativas, que farão a devida avaliação.

A Associação Portuguesa de Crianças Sobredotadas (APCS) defende, desde a sua criação em 1986, a inclusão destas crianças em escolas e turmas regulares. No que diz respeito à intervenção, em primeiro lugar é imprescindível, no âmbito da sala de aula, haver lugar, por parte dos professores, à devida diferenciação pedagógica. No entanto, os alunos sobredotados devem também beneficiar de atividades de enriquecimento que podem acontecer a nível de sala de aula, através, por exemplo, do aprofundamento dos conteúdos programáticos; e a nível de programas extracurriculares, desenvolvidos nas instituições educativas, em que se promovem atividades cujo principal objetivo é o seu desenvolvimento pessoal e social.

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Cada vez mais, tem-se verificado a existência de dessincronias no perfil das crianças sobredotadas, isto é, discrepâncias nos diversos domínios de desenvolvimento, nomeadamente, entre as habilidades cognitivas e as habilidades motoras e psicomotoras, ou entre as habilidades cognitivas e a maturidade emocional. É importante desenvolver as suas habilidades cognitivas, mas é indispensável trabalhar as competências motoras, sociais e emocionais para que o seu crescimento seja equilibrado e saudável.

Para desenvolverem as suas capacidades e os seus talentos e conseguirem um desenvolvimento integral salutar, mantendo a motivação e adquirindo hábitos de estudo e de trabalho, necessitam não só que a escola os estimule e apoie devidamente, mas também a família. Isto é, necessitam de orientação e estímulo para desenvolverem ao máximo o seu potencial, crescerem de forma saudável e terem bem-estar.

O caminho que os pais devem percorrer para o sucesso e bem-estar dos seus filhos parte de um diagnóstico adequado e atempado, passa por terem informação específica sobre este tema, pela possibilidade de apoio de instituições que se dedicam a esta causa; passa também pela articulação com o contexto educativo para potenciar as qualidades das crianças sobredotadas e, ao mesmo tempo, minimizar os efeitos das lacunas que estas possam poder apresentar, pelo desenvolvimento de relações de pares satisfatórias e pelo acompanhamento/envolvimento dado aos filhos, dando todo o apoio e promovendo experiências adequadas às necessidades de cada criança.

As crianças sobredotadas constituem um potencial que não pode ser desperdiçado, pelo contrário, deve ser identificado, reconhecido, orientado com base em valores e promovido, de modo a serem fermento para o progresso e bem-estar da humanidade.