Não fiquem os melómanos preocupados, pois não irei dissertar sobre o álbum dos Supertramp com o mesmo título. A ideia para este texto nasceu da novela que se instalou em Portugal relativamente à crise da direita em Portugal. Tem sido uma autêntica ópera bufa, ou para usar o nome de uma das músicas do tal disco: uma soapbox opera. Atentemos a quem usa e abusa do refrão: a esquerda. Não dá para estranhar? Então, mas a esquerda – que em Portugal vai desde uns anquilosados estalinistas, passa por uns dissimulados trotskistas e acaba nuns oportunistas – quer uma direita forte? Pugna por isso? O choradinho que quer uma “boa” direita – em contraponto à direita do Chega – é, além de falso, hipócrita. Nunca nos podemos esquecer que no nosso país foram chamados ao poder partidos com a mesma índole do que o do Ventura. Só pode falar de cerca sanitária quem a fizer a todo e qualquer extremo. Se não o faz, então cale-se.

A história, ou historieta, que por mérito de Melo Antunes os comunistas foram chamados ao jogo democrático, já enjoa. Foram derrotados, ponto. Sim, é verdade que ao longo destes anos – desde 25 de Novembro de 1975 – se têm conformado às regras do “jogo” democrático. E o Chega porventura não tem, igualmente, cumprido as mesmas regras?

No entanto, nas televisões, os vários painéis de comentadores – que vão do indigente e ignorante ao tendencioso – lobbies gay, esquerda, liberal, feminista – caem, ou deixam-se cair, na esparrela, repetindo a nota: a direita está em crise.

Estará? Sim, é verdade que após a saída de Passos Coelho, tem existido uma busca por um novo líder e rearranjos dentro do espectro (transferências de votos entre partidos). E a esquerda? Não vejo a extrema a subir nas sondagens! Quem sobe, ou aliás mantém, é o PS. Ora, por paradoxal que possa parecer, quanto maior for o PS em determinado momento, mais rapidamente poderá ocorrer a sua queda. Julgo que António Costa sabe isso e precavê-se, aumentando de uma forma antipatriótica “a tropa” da função pública. Relendo Edward Gibbon, encontro esta afirmação – relativa aos imperadores romanos – “(..) nenhum Estado pode manter, sem se esgotar rapidamente, uma centésima parte dos seus membros armados e inactivos (…)”, pág. 99 da História do Declínio e Queda do Império Romano. Se, à época, era na Guarda Pretoriana, agora é na função pública (que funciona como tal).

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Já se sabe que quando isto der para o torto (e vai acabar por dar) alguém terá que pôr ordem na casa. Aí o PS hiberna, procura um novo líder e repete-se a história como em qualquer má novela mexicana – ou soapbox

Mário Soares afirmava – sem medo – que era de esquerda, ateu e republicano. Alguém tem de afirmar: cristão, republicano e de direita. Quero ouvir isto e não com quem se anda a dormir, que é o lado para onde durmo melhor.

O que desejo é que digam que o actual sistema de pensões está obsoleto e que as pessoas devem poder descontar o que quiserem para onde entenderem.

Que os pais possam colocar os filhos a estudar onde bem lhes apeteça, pagando o Estado o custo quando não exista oferta pública. Que as escolas – públicas e privadas – compitam pelos melhores alunos.

Que se possa aceder aos cuidados de saúde, independentemente de quem os fornece.

Que um país com um milhão de funcionários públicos não é viável e, como tal, há que reduzir o tamanho desta guarda pretoriana. Com despedimentos? Sim, não há hipótese de como não.

Que os impostos, quer às empresas, quer aos cidadãos, são muito elevados e têm de baixar. Que todos, seja lá qual for o salário que aufiram, os devem pagar.

Que o sistema eleitoral tem de ser alterado, criando a possibilidade do voto uninominal, retirando poder aos directórios partidários.

Que o direito ao transitado em julgado não é atribuído aos políticos nem aos governantes, no que respeita ao exercício dessas funções.

Continuem os liberais de serviço a dizer palavrões na TV, a escrever umas baboseiras no Twitter e, com um douto ar, a falar de liberdades esotéricas, de questões de género e a sair dos armários e vão ver onde isto acaba. Será que não percebem que o armário para a esquerda é um género de matrioska? Haverá sempre mais um armário de onde sair. A coisa não tem fim. Insistam igualmente em cercas sanitárias e irão ver quão cercados acabarão. O povo que passou a votar Chega não foi enganado. Foi, sim, dispensado por aqueles que não perceberam que foram aldrabados pela esquerda. Como disse Édouard Louis na sua entrevista ao Expresso de 3 de Setembro último: “Se o único espaço que se oferece às pessoas para dizer que sofrem é na extrema-direita, então as pessoas usá-lo-ão.”

Infelizmente, e porque só se aparece nos media – particularmente o CDS – quando se dispara forte, caímos na ratoeira de dar importância a personagens como o tal de Ascenso, ou de comentar a vergonha nacional que é esse ministro que responde ao nome de Cabrita. Bem sei que, se vivêssemos num país decente – com uma sociedade civil forte e com uns media não acocorados –, estas duas figuras irrelevantes tinham já sido enviadas para o local de onde vieram. O problema é que vivemos num país pobre, e o pobre tem mais com que se preocupar do que com gente deste calibre.

Concluindo: o que a direita necessita é de ser decantada, depurada. Quanto mais o CDS e o PSD falarem dos assuntos sérios que dizem respeito a quem trabalha, mais a sua extrema será levada a dizer/fazer disparates (piores do que aqueles que já vai dizendo/fazendo).

Crise? Só se for para aqueles que julgam que isto é tudo boa gente e que são possíveis entendimentos com a esquerda portuguesa.