O tópico “cuidadores informais” ganha lugar e relevo na agenda política e mediática em Portugal e na Europa, reconhecendo-se, cada vez mais, que estes são uma parte significativa da comunidade com funções essenciais à sociedade. Na verdade, os cuidadores informais são muitas vezes os principais e únicos responsáveis pelos cuidados de pessoas com doença ou algum tipo de dependência. Ainda assim, será que sabemos o que envolve cuidar de uma pessoa dependente? Será que temos consciência das dificuldades que estes cuidadores enfrentam diariamente e várias vezes por dia?

Cuidar de alguém em situação de dependência para o autocuidado, por doença crónica ou deficiência incapacitantes, é exigente e são muitos os seus potenciais impactos negativos, nomeadamente a nível físico, psicológico, social e económico, quer na vida do cuidador, quer na vida da pessoa cuidada. Ser cuidador significa dedicar tempo ao outro, com sacrifício de ações pessoais, para auxiliar e apoiar o outro a estar cuidado e amado. Ser cuidador é oferecer um sorriso quando o cansaço já atingiu o seu auge, disfarçar as dores e preocupações, aconchegar, valorizar. Ser cuidador implica, em muitos casos, anular as vontades e desejos pessoais, colocar a vida própria em segundo plano, como disponibilidade ao outro.

A sobrecarga do cuidador pode comprometer a continuidade da prestação dos cuidados, o que faz aumentar a preocupação com o acompanhamento e com o apoio prestado aos (e pelos) cuidadores informais. Ainda assim, continua a existir uma escassez de respostas de apoio a esta população e um grande número de necessidades não satisfeitas. No passado dia 5 de novembro assinalou-se o Dia Nacional do Cuidador Informal que procura sensibilizar a população em geral para a importância destes cuidadores, e de lhes dar o apoio de que necessitam a vários níveis, designadamente a nível físico, psicológico e/ou financeiro.

A capacitação dos cuidadores na literacia em saúde e suporte social surge como uma das áreas de melhoria a desenvolver. Depreende-se que o nível de preparação nos cuidadores é relevante para a qualidade do cuidado ao recetor do mesmo, pelo que deverá ser considerada com uma das prioridades da saúde pública. O objetivo é contribuir para o entendimento claro sobre o autocuidado, o uso efetivo dos recursos de saúde e a tomada de decisão mais informada e consciente, o que, por sua vez, remete para mais e melhores acessos a serviços de apoio ao cuidador, maior conhecimento sobre os serviços de saúde já existentes, menos sobrecarga e mais qualidade de vida relacionada com a saúde. No entanto, existe ainda pouca evidência sobre os níveis de literacia em saúde dos cuidadores informais, reforçando a necessidade de mais investigação.

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Desta forma, a iniciativa “Saúde que Conta”, criada em 2011 pela Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa, pretende na sua 8ª edição promover o debate e sensibilizar a comunidade para a importância da literacia em saúde nos cuidadores informais em Portugal através do conhecimento sobre literacia sensível e de qualidade de vida destas pessoas, de forma a contribuir para a implementação de estratégias que contribuam para a sua eficaz capacitação.

Uma das lições que a recente pandemia nos ensinou foi a olharmos mais para o outro, a ajudar, a sermos “mais humanos” – e é este o papel que os cuidadores informais assumem diariamente. É neste racional que consideramos essencial “olhar” para a perspetiva de quem cuida, de forma a contribuir para o desenvolvimento de respostas e estratégias que visam prestar auxílio aos cuidadores informais.

Porque para se poder cuidar bem das pessoas que necessitam de cuidados de saúde precisamos, também, de cuidar e apoiar aqueles que os cuidam!