A democratização do acesso à cultura, criando uma comunidade mais informada, interventiva e consciente deve ser um desígnio de todos nós. Em Faro, assumimos dois importantes convénios que buscam essa concretização: a cultura para todos e uma declaração de colaboração com o Plano Nacional das Artes. É mais um compromisso de longo prazo que o concelho está a estabelecer com a cultura e cuja força motriz é Faro2027, a candidatura de Faro a Capital Europeia da Cultura. Este passo que estamos a dar não surge de geração espontânea: foi um dos objectivos firmados no Plano Estratégico para a Cultura 2030, aprovado no ano passado, com um horizonte temporal que suplanta a própria Capital da Cultura. A aprovação desse plano foi antecedida de um intenso e alargado debate público, participado por centenas de agentes culturais e artísticos, associações e cidadãos em nome individual.

Depois de ouvir, chegou a hora de agir. Em todo o processo preparatório do PEC Faro 2030, confirmámos a convicção generalizada de que a mediação cultural é fundamental para o nosso território. Porquê? Porque a mediação cultural não se trata “apenas” – e este apenas já é muito – de trabalhar com os mais novos, os das escolas. Temos de trabalhar para quebrar barreiras e estereótipos. Pluralizar. Trazer para a plateia quem acha que um concerto de música clássica não é para si. Trazer ao teatro (e ao cinema! e ao jazz! e à dança! e ao folclore!…) quem se recusa ou não pode participar, quem se recusa ou não pode abrir os seus próprios horizontes. O mesmo deve acontecer com quem acha que não gosta de ler, ou que meteu na cabeça que as séries da TV e os sites de streaming já providenciam toda a informação que é necessária. E não é verdade. Há vida para lá do ecrã da nossa televisão, ou do tablet e do smartphone.

Ao assinarmos este convénio, estamos também a lutar contra isto. Combatemos a desistência, a isenção da própria cidadania. Quem desiste de pensar, cerceia a sua própria criatividade e cinge os limites da sua intervenção no mundo. É uma forma de auto-censura que, como sabemos, é a pior das censuras! Importa, pois, combater, ajudando a simplificar o acesso às artes PARA TODOS, mediando esse processo tão nobre, que é o acesso ao conhecimento através das artes. Nada mais democrático!

Mas importa quebrar outras barreiras, porventura ainda mais cruéis. A questão económica é central. É preciso reconhecer que apesar de uma política de preços muito acessível, existe quem não pode pagar um bilhete. Os poderes públicos podem e devem intervir, criando formas de incentivo à presença de público economicamente desfavorecido, sem que isso hipoteque a sobrevivência das companhias e dos agentes culturais.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Quebremos também a barreira social, procurando públicos junto de comunidades que normalmente ficam nas franjas das nossas iniciativas culturais. Pensemos nos públicos que não dispõem de mobilidade, que não dispõem de viatura própria. Pensemos nas necessidades educativas especiais, aprofundemos o nosso trabalho de mediação, chegando a quem a vida ou a natureza, nem sempre generosa, tratou de excluir.

A ideia é derrubar barreiras e construir novos públicos. Trazer mais gente (toda a gente!) e potenciar a inclusão. Talvez façamos chegar as mensagens aos públicos tradicionais, mas que estamos a fazer para chamar aqueles que estão do lado de lá do muro? Certamente não o suficiente.

Ousemos chegar a todos.