Em algumas organizações, escolher alguém para gerir uma equipa significa escolher a pessoa com a melhor proficiência técnica que consiga tomar as decisões mais difíceis e liderar o planeamento. Nestas situações, é natural que se atinjam bons resultados do ponto de vista técnico e das aplicações de software produzidas, no entanto, quem se encarrega da felicidade e bem estar dos diferentes indivíduos da equipa?

Eu ainda me lembro de uma das minhas primeiras experiências numa organização de larga escala, onde comecei a minha carreira como colaboradora individual. Tinha problemas em entender como o gestor da minha equipa poderia influenciar a minha carreira, ou quando a quem podia recorrer quando precisava de ajuda. “1on1s” não eram agendadas de forma regular, nem havia expectativas sobre como eu poderia melhorar ou quais os meus objectivos num futuro próximo.

“Engenheiros são capazes de se tornarem em gestores excepcionais – mas em várias empresas, as suas carreiras até ao ponto de transição para a gestão não desenvolvem nenhuma das capacidades necessárias para a execução dessas novas funções.”

Na indústria tecnológica, o termo “developer-manager” é bastante comum. Tipicamente este termo refere-se a engenheiros de software séniores que decidem que estão prontos para o próximo desafio de carreira e, após tirarem cursos de gestão, se tornam gestores e esforçam-se continuamente para melhorar as suas “soft skills”.

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Eram indivíduos com excelentes capacidades de programação e que guiavam a equipa no desenvolvimento de soluções técnicas, mas não tão capazes do ponto de vista da sua habilidade gerar entusiasmo, coesão e habilidade de criar um excelente ambiente de equipa.

“Não é uma hipérbole constatar que engenharia e gestão são duas profissões distintas. Passar de engenheiro para gestor não é só uma mudança de título. É uma mudança de identidade.”

Como seres humanos, temos um conjunto de habilidades naturais que usamos no dia a dia de forma inconsciente. Outras habilidades podem ser adquiridas ao longo do tempo, mas, para as usarmos de forma eficiente, é necessário um esforço muito maior. Escolher atividades ou carreiras que necessitem do uso das nossas habilidades naturais é uma escolha que torna as nossas vidas mais fáceis e por consequência nos predispõe a ser mais bem sucedidos. Comunicar de forma eficiente, ser empático de forma natural, ter visão estratégica, honestidade ou possuir vontade de ajudar os outros. Todas estas características, se presentes de forma natural, podem facilmente tornar alguém um bom gestor.

Com as competências descritas anteriormente, os gestores são capazes de criar equipas coesas e confiantes. Nestas circunstâncias, torna-se mais fácil preocuparmo-nos com as pessoas que gerimos e aliarmos as suas capacidades com as necessidades de cada projecto de forma a ser possível ajudar cada indivíduo a crescer na sua carreira. E então e as capacidades técnicas dos gestores? Será que podem ficar para trás? Idealmente, é preferível que se envolvam menos em decisões de cariz técnico e que confiem que as pessoas que gerem sejam capazes de tomar as decisões correctas.

“Os engenheiros odeiam ser micro managed do ponto de vista técnico mas adoram ser geridos de forma mais próxima no que toca às suas carreiras.”

Indivíduos com competências do ponto de vista interpessoal deveriam ter mais oportunidades de se tornarem gestores. Por outro lado, para pessoas que naturalmente não têm estas competências, também faz sentido que as empresas invistam no desenvolvimento de habilidades mais técnicas. Estas mudanças de prioridade podem resultar numa maior felicidade da equipa. Tendo em conta a raridade com que se encontram pessoas com interesse em se tornar gestores na área de engenharia de software, é importante que as empresas reiterem de forma clara quais as competências necessárias para esta função, de forma a encorajar mais pessoas a abraçarem oportunidades deste género.

Encontras-te na indústria tecnológica há algum tempo e não sabes qual o próximo passo a tomar na tua carreira? É comum levarmos alguns dos problemas com que lidamos no trabalho para casa durante o nosso tempo livre. Uma forma diferente de pensar sobre o próximo passo de carreira é perguntares-te que tipo de problemas de trabalho preferias levar contigo: problemas de cariz interpessoal ou de natureza técnica?

Mihaela Ciobotaru, 28 anos de idade, tem o curso de Ciências da Computação e nos últimos 7 anos tem trabalhado como Engenheira de Software. Desde o início deste ano agarrou o desafio de se tornar gestora e está agora focada em ajudar a sua equipa a construir o futuro da área de serviços financeiros na Mollie.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.