O Partido Comunista Português não tira conclusões nem dos seus erros e fracassos, nem das forças políticas “irmãs” nas várias regiões do mundo. Por isso encontra-se em vias de extinção cada vez mais rápida. Mas como qualquer bom conselho que se possa dar é interpretado como “provocação burguesa”, que continuem a ser “consequentes” na sua cegueira ideológica.

O dirigente comunista Jerónimo de Sousa, na noite das eleições autárquicas, reconheceu que a Coligação Democrática Unitária, formada pelo PCP e PEV, “ficou aquém dos objectivos colocados” e que, por isso, tem “muito para avaliar”. Para ajudar nessa avaliação, deixo aqui algumas “provocações burguesas” sem esperar que haja uma resposta positiva a elas.

O fim da frente mais bem-sucedida

As autarquias eram uma das últimas frentes de combate mais bem-sucedidas até 2017, ano em que começou o descalabro com a perda de numerosas câmaras, tendo a queda sido menor, mas não menos importante nas eleições de Domingo passado. Os exemplos das derrotas em Almada, Loures, Mora, Montemor-o-Novo, Moita, etc., são o melhor exemplo disso. As autárquicas da CDU deixaram de ser exemplares.

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Na próxima vez será ainda pior se o PCP não fizer mudanças radicais na sua ideologia e actividade política, pois o tempo passa rapidamente e os comunistas portugueses continuam a ser consequentes (isto na linguagem deles, porque, na realidade trata-se de miopia e teimosia ideológica).

Se o PCP quiser sobreviver tem de se transformar de partido de extrema-esquerda em força política da esquerda democrática, mas duvido que isso aconteça por várias razões.

Os comunistas portugueses deveriam abandonar completamente o chamado marxismo-leninismo-estalinista, teoria que falhou, falha e falhará em todos os países onde foi, é e será aplicada. A sociedade moderna já não pode ser lida à luz de ideias elaboradas no século XIX e princípio do século XX.  Por exemplo, tem de reformar (no sentido da segurança social e não política) “ideólogos” como o líder histórico Albano Nunes, que defende que “o capitalismo tem de ser derrubado pela força”.

O PCP teria de pôr de lado a sua posição negativa face a realidades como a União Europeia e a NATO, reconhecer a evidência de que a integração europeia teve e tem resultados mais positivos do que negativos para Portugal.

Será também imprescindível reconhecer que as experiências soviética e outras de construção do socialismo e do comunismo fracassaram e fracassam porque se baseavam e baseiam na ditadura de um partido único e na ausência dos mais elementares direitos humanos. O extermínio de classes sociais inteiras não conduz à igualdade, mas à formação de uma sociedade formada pela “nobreza” (nomenclatura) comunista, que se representa a si própria, e pelos servos desse grupo social que não têm qualquer influência nas estruturas do poder; a liquidação de toda e qualquer força política de oposição conduz à estagnação em todos os sectores da sociedade.

Neste contexto, recomenda-se o estudo aprofundado das páginas mais sangrentas da história do comunismo para que jovens comunistas responsáveis, como Rita Rato (directora do Museu do Aljube Resistência e Liberdade) ou João Ferreira (que dizem ser o provável sucessor de Jerónimo de Sousa à frente do PC) saibam o que foi o sistema do GULAG (campos de concentração soviéticos), ou  Manuel Tiago, ex-deputado comunista, compreenda a ignorância que revela ao negar as grandes fomes na URSS como o Holodomor. A propósito, uma das muitas semelhanças entre comunistas e nazis consiste precisamente na negação das páginas mais negras desses regimes totalitários.

O estudo é tanto mais urgente, porque essas ideias são defendidas pela nova geração que irá suceder a Jerónimo de Sousa e à velha guarda à frente do Partido Comunista Português.

A renovação do PCP passa igualmente pela condenação de ditaduras como a Coreia do Norte, China, Venezuela, Nicarágua ou de regimes autoritários como o de Vladimir Putin, na Rússia, ou de Alexandre Lukachenko, na Bielorrússia.

Claro que a perda de votos no PCP se deve, em medida significativa, à mudança de gerações. Na era dos computadores e da internet, é muito mais difícil convencer os jovens a lutar por ideologias obsoletas, por regimes autoritários.

Ainda resta a influência do PCP nas estruturas sindicais, mas esta também está a descer.

Por enquanto, este partido ainda tem utilidade como “muleta” do Governo de António Costa, mas isso não contribui para o aumento da popularidade dos comunistas e é uma das razões do seu enfraquecimento.

Se os dirigentes do PCP continuarem a ser consequentes, pois bem, andarão de “vitória” em “vitória” até à derrota final. Será motivo para dizer: “Boa viagem!”