Há já algum tempo, vi um western (de Anthony Mann, creio) em que um casal de colonos chega ao lugar, à beira de um rio, onde se vai estabelecer. Contemplando a magnífica paisagem (os westerns de Mann são praticamente imbatíveis nisso), agradecem a Deus ter-lhes dado um lugar tão belo para viverem. Aposto que há centenas de westerns em que os mesmos propósitos são emitidos; como aposto que deve ser muito difícil encontrar frases dessas em filmes das últimas décadas.
Não é a menção a Deus em si que é o mais importante aqui: é o que ela exprime, E o que é que ela exprime? A ideia de uma liberdade e de uma felicidade permitidas pelo facto de a natureza estar ao nosso dispor, de ela existir para nós nela vivermos e dela usufruirmos. Não é difícil imaginar as razões pelas quais semelhantes pensamentos são anátema nos dias que correm. Com razões e sem elas, a natureza é vista como algo que deve ser preservado contra as nossas acções. A pura e simples boa consciência do casal de colonos, que era uma condição da sua felicidade, seria impossível hoje. A má consciência, a neurose e a má-fé tomaram conta de tudo. Nada pode ser celebrado que não seja a própria má consciência, nenhum outro objecto é suficientemente digno de elogios, e toda uma indústria “cultural” se aproveita desse magnífico nicho de mercado.
A cena do filme de Anthony Mann veio-me ao espírito por causa da controvérsia em torno da palavra “descobertas” no nome do novo museu de que se fala. A quase totalidade do que se escreveu sobre o nome do museu releva por inteiro deste culto da má consciência. Nada é inocente, tudo encobre algo de podre que deve ser trazido à luz e passar para primeiro plano.
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