Fazendo parte de uma geração de curiosos com perfis ambiciosos e sedentos de desafios, é cada vez mais comum e recorrente o interesse em  startups, especialmente tecnológicas. Chegam-me frequentemente perguntas de onde começar, qual o momento certo para deixar o mundo corporativo ou  enveredar numa aventura própria, quais os factores que levam ao sucesso de uma startup, quais os passos a seguir para conseguir o tal product-market fit; e a verdade é que não se trata de rocket science nem existe uma resposta chapa cinco.

O sucesso exige acima de tudo trabalho e perseverança. Empreender ou liderar uma startup do início pressupõe um grande sentido de responsabilidade; que requer um pulso firme em liderança, uma vontade e paixão inerentes e de certa forma uma atracção pelo desafio e algum fascínio pelo desconhecido. Mas acima de tudo, não acreditando eu em one-man shows, o sucesso de uma startup rege-se essencialmente pela construção de uma equipa forte, competente e alinhada. Ter o privilégio de recrutar, acompanhar e crescer com uma equipa na Too Good To Go foi chave para podermos alavancar o projecto e difundir a missão.

Outro factor que considero aliado do sucesso é o foco numa cultura de empresa que valoriza as pessoas. A felicidade é a maior adepta da motivação, que por sua vez é o veículo condutor da produtividade. Tendo vivido a experiência em duas empresas que promovem ​ uma cultura saudável que potencia essa felicidade, a Google e agora a Too Good To Go, acredito que o tempo investido nas pessoas é sempre bem gasto. Processos de recrutamento com várias etapas e business cases são certamente mais difíceis e morosos para os candidatos, mas garantem uma margem de erro diminuída e asseguram que sejam contratadas as pessoas certas. Ainda tocando a cultura de empresa, nos tempos que correm a flexibilidade é cada vez mais valorizada, sendo que o trabalho remoto passou de excepção a norma e liderar deve, hoje mais que nunca, passar pela confiança ao invés do controlo.

Um modelo de negócio sustentável é igualmente importante no caminho do sucesso. Felizmente, existem cada vez mais empresas que vão para além da criação de valor económico e que procuram assegurar a sustentabilidade ambiental e social da sua actividade, ao mesmo tempo que têm valores adjacentes como parte do seu ADN – como também é o caso da Too Good To Go. Estas empresas chamadas BCorp, que privilegiam as pessoas, o ambiente e o compromisso social sobre os benefícios económicos, assumindo assim uma responsabilidade corporativa, e reconhecem que estas devem gerar valor para a sociedade e não apenas para os accionistas. Estes modelos criam uma sensação de propósito no colaborador que impulsiona a um maior envolvimento com a empresa.

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Por último, a capacidade de inovação e transformação. Fazer diferente não é fácil, e com isto não significa que tenhamos que reinventar a roda, mas é necessário encontrar uma vantagem competitiva clara e diferenciada. Sermos capazes de nos adaptar com o desenvolvimento da tecnologia, de evoluirmos com o tempo e de estarmos aptos para a mudança. Uma visão estagnada não progride nem evolui. E para se ser inédito há que ser inovador.

Nós jovens, enquanto empreendedores e empresários, devemos procurar ser ousados e destemidos sem deixarmos de ser humildes, ter a iniciativa e curiosidade espontânea para querer descobrir e saber mais (surpreendementemente as pessoas, inclusive os desconhecidos, são mais receptivos do que imaginamos), lembrarmo-nos que positivismo atrai positivismo, estar disponíveis para ajudar o próximo sem pedir nada em troca (muitas vezes invertem-se os papéis e somos nós os aprendizes) e rodearmo-nos das pessoas certas que podem aportar um valor real – sejam co-fundadores, investidores ou membros da equipa.

O sucesso desconstruído é subjectivo e tem bastantes variáveis dependendo do que cada um procura para si. Não há um certo ou errado, não é preto ou branco, e definitivamente não existe uma linha condutora que nos leva até lá. Existem, sim, expectativas e percepções que podem ou não fazer sentido para cada qual. Mas no final do dia, o que realmente conta é o sentimento de realização ao chegar a casa dia após dia. E o meu maior conselho para aqueles que ainda não o encontraram, é que não desistam de o procurar.

Madalena Rugeroni é uma empreendedora de gema. Formou-se em Relações Internacionais e Comunicação nos Estados Unidos e trabalhou em diversas empresas como a Google, Young & Rubicam e Havas Media Worldwide. Tendo duas grandes paixões, tecnologia e comida, acabou por regressar a Portugal ao fim de sete anos em cinco diferentes cidades – Madrid, Lisboa, Londres, Nova Iorque e Miami – para fundar a sua startup e ser mentora de várias outras. Foi daí que nasceu o Misk, uma plataforma que personaliza a experiência gastronómica dos seus utilizadores e lhes permite encontrar recomendações tendo em conta o seu círculo mais chegado de amigos. Em 2019, a Madalena abraçou um novo desafio como Country Manager e líder da Too Good To Go em Portugal e Espanha e mostra como podemos ser foodies e salvar o mundo ao mesmo tempo.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõem o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.