Fomos, nos últimos tempos, forçados a observar a China e a dependência comercial do Ocidente com outros olhos. Desde o início da pandemia, a paralisação da cadeia logística chinesa desencadeou ondas de choque que afetaram muito particularmente a Europa. Por outro lado, com a guerra na Ucrânia, as nossas prioridades comerciais e económicas passaram a estar mais condicionadas pelos valores morais que defendemos enquanto sociedades democráticas. Neste contexto, a instabilidade social e política na China pela insistência na política “Covid zero” pode ter sido o empurrão que faltava para as economias europeias começarem a soltar as amarras que as prendiam a Pequim.

É natural que a dependência de uma economia que criou, em 2021, quase 30% dos produtos em circulação no mundo não se inverte em meses ou mesmo anos. Este é um player central na economia mundial. Mas os riscos geopolíticos e económicos desta relação com um regime cada vez mais instável e pouco confiável como aquele liderado por Xi Jinping são uma ameaça maior do que a perda de um mercado desta dimensão.

A aparente inversão da política “Covid zero”, provocada essencialmente por pressões sociais internas, é, para já, uma boa notícia para a economia mundial. Mas não pode anestesiar as intenções de reduzir a dependência comercial da China – ainda neste aspeto, a atual administração norte-americana, tal como a anterior, tem sido muito clara no que diz respeito à sua estratégia em relação a Pequim e a oportunidade atual não será desperdiçada por Washington. Cabe aos países europeus acompanhar os EUA ou ficarem cada vez mais isolados.

A pandemia trouxe-nos, em termos de logística, uma situação nunca vista, levando a um aumento de custos sem precedentes. A relocalização da produção para ocidente reequilibrará não só esta tendência inflacionária, como criará um mundo mais equilibrado a nível político e económico. Mesmo no que respeita à mão de obra – até aqui uma vantagem comparativa da China – o equilíbrio com o resto do mundo verificar-se-á à medida que a classe trabalhadora chinesa intensificar a pressão para a melhoria das suas condições de trabalho.

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Tudo isto, a que se junta a complexa situação de incerteza provocada pela invasão russa da Ucrânia, tornam as decisões de investimento e comerciais a longo prazo muito difíceis. O importante será, neste momento, manter o foco e a concentração no que sabemos fazer bem, estudar as necessidades das empresas, clientes e economias nacionais e contribuir para o reequilíbrio económico.

Felizmente, a atividade do Grupo Pinto Basto, apesar de ser uma das empresas de logística e navegação de referência em Portugal e na Europa, nunca esteve dependente da força comercial da China. Isto é e será, no futuro próximo, uma vantagem e pode ser visto como um exemplo a seguir, pois estaremos mais preparados para um novo paradigma que se está a construir. Conseguimos ao longo das últimas décadas cobrir todo o globo através dos nossos escritórios em Portugal, Espanha e Angola e através da nossa vasta rede de agentes.

Uma coisa é certa: o reequilíbrio da economia mundial não poderá ser conseguido usando as mesmas receitas do passado, ou seja, mantendo as antigas relações comerciais e políticas tal como estavam estabelecidas até aqui. Em cerca de três anos, chocámos de frente com uma pandemia e uma guerra em larga escala em solo europeu que abalaram todos os alicerces em que nos apoiámos nas últimas décadas. Esta estrutura terá de ser reconstruída, usando, para isso, ferramentas novas.