A tecnologia é, na sua maioria, dominada pela presença de figuras masculinas. Ou, pelo menos, é assim que olhamos, tendencialmente, para esta área. Se fizermos o exercício de pensar no setor tech, dificilmente será a imagem feminina que nos vem à cabeça. Porém, os números indicam que esta predisposição está a mudar. Ainda que possa ser surpreendente acreditar, segundo dados da Eurostat divulgados no início do ano, Portugal contava em 2020 com 52% de mulheres cientistas e engenheiras – um número que se destaca, aliás, de grande parte de outros países europeus. Não de todos, mas de vários. Então porque será que associamos tão prontamente o homem à tecnologia? Neste Dia da Igualdade Feminina, celebrado a nível internacional, procuro refletir um pouco sobre o tópico e deixar algumas dicas às empresas que querem fazer a diferença e contribuir para os números positivos que vão começando a surgir, combatendo as disparidades que tanto vemos em vários negócios.

Tenho vindo a assistir, quase diariamente, à tentativa de “abraçar” a inclusão e a igualdade em várias empresas tecnológicas. Durante o meu percurso profissional, já tive a oportunidade de contactar com várias organizações que procuram talento para as suas equipas, e várias têm a perceção de que ter uma equipa constituída por membros de diferentes backgrounds traz sempre uma riqueza muito maior ao negócio e ao seu crescimento. Ou seja, de certa forma a necessidade de balançar está presente. Mas há um ponto que para mim é essencial. Igualdade não é convidar para uma sala 10 mulheres e 10 homens. Não é incluir, em sessões de brainstorms, obrigatoriamente o mesmo número de mentes femininas e masculinas. Não é, de todo, assegurar cotas de recrutamento. Este pode ser um caminho, mas não é o fim. A igualdade não é um questão de números, mas sim de oportunidades, de programas, de ações, de campanhas de sensibilização. Acima de tudo, é uma questão de mentalidade.

Para isto, é necessário que as empresas e os profissionais do setor tecnológico trabalhem em prol desta mudança, abrindo espaço, primeiramente, ao tema – que, felizmente, já é algo transversal a grande parte das empresas – e depois, criando oportunidades para potenciar o papel das mulheres em tech como role-models, algo que se consegue ao promover a sua inserção em cargos de liderança – é aqui que está a grande diferença no que toca ao acesso das mulheres, às oportunidades. Para empresas maiores e que tenham os recursos necessários e predispostos para este tipo de ações, também se podem organizar comités que debatam e organizem momentos de partilha, conferências, meet-ups ou workshops sobre o tema.

Por outro lado, a própria cultura educativa deve sofrer alterações. As raízes da educação ditam que as disciplinas de línguas são para raparigas e as de ciências são para rapazes. Até quando vamos ver raparigas que têm o sonho de trabalhar em ciências ou engenharias a não seguirem o seu rumo, apenas porque não sentem que esta área seja direcionada ao seu género? A tecnologia é de todos. É isso que qualquer aluno, encarregado de educação, professor ou qualquer outra pessoa ligada à educação deve apreender.

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A mulher enquanto “role-model”, como figura de inspiração de raparigas, independentemente das suas idades, faz toda a diferença. Ao verem que outras mulheres lutaram contra o “é assim” e estão a fazer uma carreira de renome, as raparigas terão, também, a coragem para não se deixarem intimidar por aquilo que é culturalmente imposto. Os próprios programas curriculares devem conseguir explicar que a tecnologia está presente em tudo aquilo que fazemos, e que alguém que siga esta área pode fazer parte dos mais variados negócios.

Deixo por isso também o meu conselho a mulheres que sintam que a carreira tecnológica é um objetivo, mas que não sabem por onde começar. Informem-se acerca daquilo que podem fazer, em termos de profissão, com essa vossa ambição e com aquilo que já sabem. Leiam, ouçam podcasts, vejam documentários sobre “Women in Tech”. Vão a eventos e façam muito networking. E não tenham medo de pedir ajuda a uma mulher que seja, para vocês, uma fonte de inspiração. No que toca à educação, hoje é possível entrar no setor tecnológico sem ser pelos meios mais tradicionais. Existem escolas tecnológicas que conseguem oferecer cursos intensivos e práticos em diferentes sub áreas, que permitem a transformação radical de vida, bem como, para muitas pessoas, a concretização de um sonho.

Enquanto antiga responsável de Outcomes da escola tecnológica onde trabalho, vejo que várias empresas já procuram ter mulheres nas suas equipas, a par de programas e iniciativas que mostrem precisamente que não é o número que importa, mas sim aquilo que efetivamente se faz para dar voz às mulheres na área tecnológica, de forma ponderada e não apenas para preencher cotas. São boas notícias para nós.