Hoje é o Dia Mundial da Água e uma das questões mais preocupantes em todo o Mundo é a quantidade de água disponível, tanto para a vida humana e natureza, como para o desenvolvimento da economia. Esta preocupação até parece contraditória quando, na realidade, 70% da superfície da Terra é coberta por água. Mas é preciso lembrar que cerca de 98% dessa água é salgada e imprópria para consumo, a não ser que seja dessalinizada. Dos restantes 2% de água, parte está na forma de gelo ou são águas subterrâneas.

Desta gota no oceano, cerca de 70% da água doce disponível é utilizada pela agricultura, 20% pela indústria e apenas 10% para consumo humano. Na verdade, pouco sobra para consumo próprio, pois a produção agrícola exige uma grande quantidade de água para se desenvolver, e uma boa percentagem dessa água também é essencial para as indústrias.

Em Portugal, segundo a ERSAR, 40% da água para consumo humano distribuída pela Entidades Gestoras, perde-se na rede, ou seja, não chega à torneira dos consumidores (A EPAL é um excelente exemplo internacional na redução de perdas na sua rede de abastecimento). Será que poderemos continuar a fingir que esta irresponsabilidade, ambiental e económica, não se passa no nosso País? Não será contraditório, as Entidades Gestoras pedirem aos seus clientes para pouparem e pouco, ou nada, fazerem para serem mais eficientes e reduzirem perdas que dariam para abastecer cerca de 40% da população portuguesa?

Para diminuir este problema, todos sabemos que a solução é combater as perdas, o desperdício e reutilizar a água potável. Mas essa não pode ser uma responsabilidade apenas dos consumidores. Terá que ser da agricultura e dos agricultores, que porventura terão que regressar, em alguns territórios, à cultura de sequeiro ou passarem a regar as culturas intensivas com águas residuais, tratadas pelas ETAR’s. E pela indústria, utilizando água reciclada para diversos fins e aproveitando as águas da chuva nos edifícios. Da mesma forma, as Entidades Gestoras de Água, deveriam assumir um compromisso público de redução célere das perdas nas suas redes, e ter políticas de tolerância zero às perdas nas vias públicas. Também as autarquias deveriam optar em definitivo por lavar as ruas e regar jardins com água reciclada. Não nos poderemos esquecer da classe política em geral, pois vão ter que passar a dar mais valor à água e ter este tema no topo das suas prioridades e ações políticas. Já o Regulador terá que ter mais poder e independência, exigindo à Assembleia da República que reforce o seu estatuto e competências, para ambicionar uniformizar um tarifário de água, de âmbito nacional, e continuar a aumentar o tarifário da água  para todos os usos e induzir, assim, o bom uso deste bem escasso e precioso. (salvaguardando quem mais precisa com um  excelente e não burocrático tarifário social).

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Questiono, neste dia comemorativo, se faz sentido pagarmos mais pelo serviço de televisão ou pelo telemóvel do que pagamos por um bem escasso e essencial à vida, como é a água. Neste século, seremos obrigados a alterar os nossos valores e as nossas prioridades. A Água terá de ser uma responsabilidade de todos.

Infelizmente, na África do Sul o dia zero será já no dia 4 de junho. Esse será o primeiro dia em que os sul-africanos, da Cidade do Cabo, não terão água nas torneiras. Hoje têm a água racionada. 50 litros por dia, por pessoa: Reduziram a pressão, o que retira conforto, mas, por outro lado, veio ajudar no combate às perdas. Só há água em algumas horas do dia.

Se o “Dia Zero” se concretizar, os habitantes da Cidade do Cabo deixarão de ter água nas torneiras e vão passar a abastecer-se nos 200 pontos de recolha de água, onde poderão receber, no máximo, 25 litros de água por dia, por pessoa. Enquanto isso, nós damo-nos ao luxo de continuar a gastar 100 litros num duche ou a fazer várias descargas de autoclismo utilizando de cada vez 10 litros de água potável.

Repare que este não é um problema deles. É um problema nosso. Do mundo. Preserve o nosso ouro azul, em todos os usos! A água é de todos mas temos a obrigação de a preservar para as gerações futuras.

Marcos Sá

Diretor de Comunicação e Educação Ambiental da EPAL
(As opiniões expressas neste artigo vinculam apenas o autor)