A alergia alimentar é cada vez mais frequente em todos os grupos etários, com múltiplas apresentações e fatores desencadeantes. É uma área que ocupa uma enorme percentagem da atividade desenvolvida pelos alergologistas no hospital-de-dia dedicado desta especialidade.

O desenvolvimento de alergia alimentar tem muitas causas: fatores genéticos e ambientais podem predispor para o aparecimento de alergia alimentar, sendo a dieta muito importante, particularmente durante a infância – por exemplo, dar biberon com fórmulas lácteas nas primeiras horas de vida, promovendo depois o aleitamento materno, pode levar a manifestações de alergia a este alimento quando o mesmo é reintroduzido na alimentação do lactente, semanas ou meses mais tarde.

Apesar de qualquer alimento ser capaz de originar reações alérgicas de causa alimentar, só um número limitado de alimentos é responsável pela grande maioria das mesmas. Os alergénios de origem animal que mais frequentemente desencadeiam alergias alimentares são as proteínas do leite de vaca, do ovo, do peixe, dos crustáceos e dos moluscos. Por outro lado, os alergénios de origem vegetal mais frequentemente envolvidos pertencem ao grupo dos cereais, sementes e frutos secos, frutos frescos e legumes.

A crescente utilização de alergénios, muitas vezes de forma oculta, em alimentos processados industrialmente, tem contribuído para o aumento da incidência de reações alimentares graves que decorrem de uma ingestão acidental. Na verdade, a alergia aos alimentos é cada vez mais responsável por casos clínicos graves, potencialmente fatais, sendo a primeira causa de anafilaxia a nível da comunidade. Atenção: as alergias são cada vez mais persistentes, continuando pela infância até à adolescência e mesmo à idade adulta. Por isso mesmo, torna-se necessário diagnosticar com rigor e propor uma adequada abordagem a estes doentes e aos seus cuidadores.

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Para além do tratamento de urgência, imediato, que pode incluir o uso de “canetas de adrenalina”, importa evitar o contacto com o(s) alergénio(s), o que muitas vezes não é fácil. A ingestão acidental inadvertida pode ocorrer, particularmente, por contaminação durante o processo industrial ou de confeção de outros alimentos, sendo por isso muito importante ler a rotulagem.

Deve ser avaliado regularmente o estado de tolerância, sempre numa unidade hospitalar que disponha de um hospital-de-dia da especialidade, sendo importante ter a noção de que mesmo quantidades mínimas de alimento podem ser suficientes para produzir manifestações graves, incluindo a anafilaxia.

Se a história natural demonstra que a tolerância não é alcançada num intervalo esperado, podemos tentar consegui-la ativamente, através de protocolos de indução de tolerância. Ou seja, existem tratamentos específicos que permitem controlar algumas das alergias alimentares mais frequentes e devolver-nos qualidade de vida.

Em Portugal têm ocorrido desde a idade pediátrica vários acidentes fatais relacionados com a ingestão de alergénios ocultos. Uma atitude conservadora poderá relacionar-se com um prognóstico desfavorável de uma doença potencialmente muito grave e que irá interferir com a qualidade de vida, sendo que pode ter uma solução. Como diz a nossa experiência, nos últimos anos têm-se multiplicado as referências a esta abordagem, mostrando elevadas taxas de sucesso. No entanto, esta estratégia terapêutica inovadora deve ser criteriosamente utilizada, em Centros de Alergia com muita diferenciação, garantindo a segurança e a eficácia dos tratamentos.

Mais vale prevenir que remediar: não arrisque, consulte o seu médico, procure um centro de alergia.