Num artigo de opinião anterior, desafiado a escrever sobre o mergulho em Portugal e sobre o turismo que esta modalidade pode atrair para o nosso país, defendi a tese de que Portugal pode competir com os melhores destinos de mergulho. Tentei explicar porquê, baseando a minha resposta na minha experiência profissional e contacto com mergulhadores oriundos das mais diversas geografias, interessados em conhecer o nosso território, também debaixo de água.

Não é para mim surpresa, portanto, que os resultados de um estudo, realizado no quadro do evento internacional de mergulho Diving Talks – Portugal 2022, demonstrem pelos números os dois pilares da minha argumentação sobre o interesse de Portugal enquanto destino de mergulho:

  1. A qualidade do mergulho;
  2. A importância da experiência à superfície na escolha do destino de mergulho.

Há quatro anos atrás, o mundo não reconhecia Portugal como destino de mergulho. Os Açores tinham alguma visibilidade, mas uma pesquisa no Google sobre “mergulho em Portugal” não apresentava resultados úteis e, em alguns casos até, havia quem acintosamente declarasse “em Portugal não se mergulha”. Hoje, o número de praticantes estrangeiros que encontramos nos centros de mergulho por esse país fora é cada vez maior e já há operadores que reconhecem que o número de estrangeiros ultrapassa os locais.

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Cresce a percentagem de turistas que vem a Portugal especificamente para mergulhar. Os grandes operadores internacionais de turismo de mergulho começam a olhar para Portugal e já é possível encontrar no portfólio dessas empresas e nas feiras da especialidade pacotes de férias e mergulho, não só nos Açores, Madeira e Porto Santo, mas também no Algarve, Sesimbra, Lisboa, Peniche e até no Porto.

Há, portanto, hoje um maior e melhor conhecimento da atividade e das condições que temos para oferecer: 43% dos inquiridos no International Survey Diving Talks afirmaram conhecer locais de mergulho em Portugal, sendo que a principal fonte de informação são as recomendações de amigos (59%). Dos que conhecem Portugal enquanto destino de mergulho, 89% visitaram-nos há 2 anos, ou menos, e 93% já mergulhou – 51% no Continente e 21% nos Açores.

Quanto à qualidade da nossa oferta, os números são expressivos: 85% dos inquiridos declararam estar “Satisfeitos” (45%) ou “Muito satisfeitos” (40%). Os números são ainda mais surpreendentes quando olhamos para a satisfação com o destino: 90% dos inquiridos disseram estar “Satisfeitos” (40%) ou “Muito satisfeitos” (50%).

Estes níveis de satisfação são seguramente a razão para o número mais inesperado do inquérito: no universo de quem já teve a oportunidade de mergulhar em Portugal, 99% dos inquiridos afirmaram que tencionam voltar a mergulhar por cá.

O turismo de mergulho em Portugal é um nicho novo, numa indústria que recebe anualmente dezenas de milhões de visitantes e que dá um importante contributo à economia do país. É assim natural que as organizações responsáveis pelo Turismo tenham outras prioridades.

Mas do Mar não vem apenas o surf e as sardinhas assadas. E o valor económico de um mergulhador debaixo de água a olhar para elas é muito mais relevante do que o que se poderá calcular numa análise superficial. Importa ir mais fundo na tentativa de perceber o que é que queremos para este setor da economia: que tipo de turismo pretendemos para o nosso país?

Numa época em que a economia azul é mais do que uma função aspiracional e o turismo sustentável uma preocupação para todos, conhecidos os resultados deste inquérito e a sua expressão internacional já não restam dúvidas.