Esta doença pulmonar é responsável pela obstrução das vias aéreas. Em Portugal, está subdiagnosticada, sendo que alguns estudos apontam para que afete 800 mil portugueses, acima dos 40 anos, número que vai subindo com o aumento da idade. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 210 milhões de pessoas em todo o mundo têm esta patologia e, segundo a GOLD, Iniciativa Global para a DPOC, esta é a terceira principal causa de morte a nível mundial.

O que é a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica? Como se origina?

Conhecida pela sigla DPOC, a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica é comum, prevenível e tratável. Caracteriza-se por ser uma limitação lenta e progressiva, persistente e irreversível do fluxo de ar nos pulmões. Isto é, trata-se de uma obstrução da entrada e saída de ar nos pulmões, provocando dificuldades na respiração e falta de ar, entre outros sintomas. O ar que habitualmente existe dentro dos pulmões não consegue ser expirado e os pulmões destes doentes ficam sempre muito cheios de ar.

Estas alterações são resultantes de inflamação persistente que ocorre principalmente nas pequenas mas também nas grandes vias aéreas e no pulmão e desenvolve-se em resposta a vários fatores, entre os quais os mais conhecidos são o tabaco, que é mesmo a principal causa – a maioria das pessoas com DPOC são fumadoras ou foram fumadoras no passado –, responsável por 80 a 90% dos casos; mas também a exposição a gases, poeiras e produtos químicos poluentes: má qualidade do ar nas cidades, ambientes fechados e pouco arejados, fumo de lareiras, baixa qualidade do ar a que se é exposto em certas profissões. Uma reduzida percentagem de casos, cerca de 1 a 2%, pode ser causada por problemas genéticos, como a deficiência de alfa-1-antitripsina, uma enzima que previne a destruição tecidual.

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Tenho bronquite há muitos anos, posso ter DPOC?

Esta questão coloca-se com frequência e resulta da preocupação crescente com o estado de saúde. Previamente, a DPOC definia-se pela presença de uma das seguintes entidades: a bronquite crónica e o enfisema pulmonar. Esta ideia foi abandonada nos últimos anos, dado que tanto o enfisema como a bronquite crónica podem ocorrer com ou sem a limitação do fluxo de ar da DPOC, pelo que podem também existir nos doentes com DPOC, mas não são sinónimo desta doença. A bronquite crónica é definida como a presença de tosse e expetoração/muco por pelo menos três meses por ano, durante dois anos consecutivos. O enfisema é definido como a destruição generalizada e irreversível das paredes das vias aéreas mais pequenas e dos sacos de ar que constituem as unidades mais pequenas dos pulmões, conhecidos como alvéolos.

Quais são os sintomas e sinais principais da DPOC?

Os principais sintomas e sinais desta doença são a falta de ar e o cansaço, inicialmente durante o esforço físico e ao realizar tarefas do dia-a-dia e, com a progressão da doença, mesmo em repouso; a tosse de longa duração, que não passa; o excesso de expetoração e muco, isto é, o acumular de “catarro”; e a pieira, conhecida comummente como o aparecimento de “gatinhos”, que ocorre especialmente na respiração, durante a noite. Outros sintomas e sinais associados são o alargamento do tórax, conhecido como tórax em barril – a caixa torácica aumenta de dimensões ao longo da evolução da doença –, a perda de peso, a ansiedade e a depressão associada ao evoluir dos outros sintomas.

Tenho alguns destes sintomas e sou fumador, o que devo fazer? Como é feito o diagnóstico?

Os médicos de família têm um papel fundamental no diagnóstico precoce desta patologia e no seu seguimento clínico, evitando o desenvolvimento de complicações e crises, conhecidas como exacerbações, desta patologia.

Se começar a ter dificuldades a respirar, problemas com uma tosse que dura há mais de um mês, expetoração que não passa, ou algum dos outros sintomas descritos anteriormente consulte o seu médico de família. A maioria das pessoas só procura assistência médica quando já têm muita dificuldade em respirar, não dá atenção à tosse e à expetoração ou a outros problemas na sua respiração que sente durante anos. Na consulta será avaliado em relação aos seus sintomas e será realizado um exame médico de modo a identificar outros sinais da doença que possam estar presentes.

Para confirmar o diagnóstico, excluir outras possíveis causas e estabelecer a gravidade e a evolução esperada para esta doença, o seu médico assistente pode prescrever exames complementares de diagnóstico como a radiografia do tórax e a espirometria com prova de broncodilatação. Este último exame consiste em soprar com toda a força num tubo ligado a um aparelho chamado de espirómetro. Com estes exames e aplicando escalas médicas específicas e validadas para a doença, o seu médico assistente pode saber o nível de gravidade da doença e iniciar o tratamento mais adequado e eficaz.

Por vezes, são organizadas campanhas de rastreio para o diagnóstico precoce desta doença. Em junho de 2022, a Fundação Portuguesa do Pulmão organizou uma campanha para o rastreio desta doença em todos os distritos, direcionada a fumadores e ex-fumadores que tenham fumado um maço por dia, de 10 a 15 anos. A Sociedade Portuguesa de Pneumologia também lançou uma campanha com o intuito de sensibilizar para a DPOC, denominada “DPOQuê?”, contando com a colaboração de uma figura sobejamente conhecida dos Portugueses.

Existem complicações e a doença agrava-se se não for tratada?

Compreendemos a preocupação das pessoas mais atentas. De facto, a resposta é afirmativa. Sim, embora possa manter-se estável durante algum tempo, se não for tratada a DPOC progride, naturalmente, para estádios cada vez mais graves e está associada a várias complicações, associadas ao agravamento da função respiratória e aumento da morte por esta doença. Por essa razão devemos estar atentos porque algumas destas complicações são: a incapacidade para realizar as suas atividades do dia-a-dia (cozinhar, fazer a sua higiene pessoal) e trabalhar; a ocorrência de exacerbações ou crises, isto é, ocorrência de períodos de agravamento dos sintomas habituais que podem ser, ou não, causados pelo aumento da ocorrência de infeções respiratórias. O agravamento progressivo da doença pode provocar um estado de necessidade do uso de oxigénio e/ou ventiladores, ou seja, estados de insuficiência respiratória crónica podendo chegar à morte prematura.

Existe cura? Como posso tratar a minha DPOC?

Esta doença não tem cura. No entanto, é possível controlar e reduzir os sintomas, prevenir possíveis crises e evitar que progrida para estados de maior gravidade. O tratamento mais eficaz consiste em deixar de fumar, deixar de estar exposto ao principal fator causador da doença, permitindo mesmo alterar a evolução previsível da doença.

Existem também vários medicamentos que podem ser utilizados através de inalação: o doente respira estas medicações constituídas por fármacos broncodilatadores, corticoides, entre outras classes farmacológicas, usando aparelhos próprios chamados inaladores (“bombinhas”). Existem vários níveis de recomendações, classes, dosagens e combinações de medicamentos disponíveis, devendo o seu médico assistente escolher o mais indicado, de acordo com os sintomas, gravidade, estado evolutivo da doença e outros problemas de saúde do doente. Com estas medicações é possível controlar os sintomas e diminuir a ocorrência de crises.

Para complementar o tratamento, pode ser prescrita reabilitação respiratória, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e o aumento da atividade física que o doente tolera. Para isso, é feita uma avaliação e são escolhidos exercícios físicos específicos para aumentar a resistência ao esforço e ao cansaço e melhorar a respiração. Como já foi dito, nos casos mais graves, pode mesmo ser necessário o uso de oxigénio de longa duração e/ou ventiladores.

Está recomendada a vacinação dos doentes com DPOC com as vacinas contra a gripe e contra a doença invasiva pneumocócica. Quando o doente tem crises que ocorrem com infeções respiratórias, com sintomas como febre, expetoração purulenta, pode ser medicado com antibióticos, depois de avaliação médica.

“Os seus pulmões para a vida”

O Dia Mundial da DPOC é organizado anualmente pela Iniciativa GOLD, em colaboração com profissionais de saúde e grupos de doentes, por todo o mundo. O objetivo desta data comemorativa, que se realiza na terceira quarta-feira de novembro, é sensibilizar e partilhar conhecimento sobre a doença, assim como discutir maneiras de reduzir o seu fardo. Em 2022, realizar-se-á no dia 16 de novembro com o tema “Your Lungs for Life” – “Os seus pulmões para a vida”.

Referências Bibliográficas

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Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (GRESP). Guia Prático de Gestão da DPOC nos Cuidados 5 de Saúde Primários. Disponível no endereço https://gresp.pt/recursos/folhetos-guias-praticos/. Consultado a 03/10/2022.

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Sapo 24. Fuma um maço por dia? Esta campanha de rastreio pode ser para si. Disponível no endereço https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/fuma-um-maco-por-dia-esta-campanha-de-rastreio-pode-ser-para-si. Consultado a 03/10/2022.

Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP). Herman José associa-se a campanha da Sociedade Portuguesa de Pneumologia para divulgação de uma das principais causas de morte no mundo. Disponível no endereço https://www.sppneumologia.pt/noticias/herman-jose-associa-se-a-campanha-
da-sociedade-portuguesa-de-pneumologia-para-divulgacao-de-uma-das-
principais-causas-de-morte-no-mundo-. Consultado a 03/10/2022.