Os resultados de um recente Barómetro da Deco Proteste dão-nos conta de que 66% das famílias portuguesas vivem com dificuldades financeiras: são dois terços sem meios.

Segundo o estudo, esta franja da população trabalha para pagar as suas contas, ou seja, para sobreviver.

Acresce ainda o facto de 80% das famílias portuguesas afirmarem que pouco ou nada conseguem poupar.

Uma sociedade que trabalha para sobreviver e que pouco ou nada põe de lado, terá sempre maiores dificuldades em garantir resiliência em tempos de crise económica e social como os que se avizinham.

Se com uma torneira de rendimentos onde a pressão já é pouca as dificuldades para fazer face às despesas correntes já são imensas, imagine-se quando começar a correr gota a gota ou (pior ainda!) deixar sequer de pingar.

Veja-se que, segundo o mesmo barómetro, 45% das famílias portuguesas assume já ter sofrido prejuízos financeiros decorrentes da crise impulsionada pela pandemia.

E, se a curva de contágio abre noticiários, outra curva corre em velocidade ainda mais vertiginosa: no início deste mês de abril, acumulavam-se, a cada dia, 4.000 novos desempregados.

O estado de emergência e o isolamento social que se impõem para conter a propagação do vírus dão uma sensação de acalmia, mas eles mesmos silenciam uma maioria invisível que já hoje teme pelo seu futuro e pelo futuro dos seus.

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Importa que, neste quadro monotemático dos media, sejam incorporadas as visões, sensibilidades e preocupações daqueles que pouca voz têm para se fazer ouvir no meio deste ruído.

Impõe-se à política e à sociedade civil antecipar, com soluções pragmáticas e inovadoras, esta previsível catástrofe social, assumindo que, nem todos os bons diagnósticos surgem por trás de uma webcam e à frente de estantes bem compostas.

Este silêncio no meio do ruído esconde o desespero e medo de muitas famílias portuguesas. o drama virá se, juntas, começarem a fazer barulho.