A saga do atentado na Faculdade Ciências da Universidade de Lisboa veio acabar com um dos mitos que gostamos de contar sobre Portugal. Não estou a falar do mito de sermos um dos países mais seguros do mundo, esse continua firme. Refiro-me ao mito de termos agora a geração mais bem preparada de sempre. No meio disto tudo, a única coisa com que se rebentou foi essa crença.

Não só o suposto terrorista não estava preparado para aterrorizar, como os putativos aterrorizados não se mostraram preparados para serem aterrorizados. Nota-se, nestes jovens, uma falta de competência para organizarem atentados como deve ser e uma incapacidade para serem vítimas de jeito. A geração não é preparada, é só parada. Parece um veado encandeado pelos faróis.

Os jornalistas bem se esforçaram para transformar o jovem num perigoso mestre do crime, que teria gizado um plano infalível para massacrar os colegas. Na realidade, começa-se a perceber que a ideia estava alinhavada às três pancadas – que, ao ver o físico do rapaz, são as únicas três pancadas que ele parece capaz de executar. Como qualquer adolescente, todos os dias arranjava uma desculpa para adiar a entrega do projecto escolar. “Hoje não dá, que tenho de ir cortar o cabelo, para a franja não estar sempre a cair à frente da mira. Amanhã também não, vou comprar ténis novos, que estes aleijam os pés e depois não consigo correr atrás dos meus colegas e só apanho os badochas. Se calhar, também não devia correr com as facas na mão, ainda firo uma vista. Na quarta-feira é dia de pizza no refeitório, vou encher o bandulho. E quinta-feira vou estar mal disposto, porque abuso sempre da pizza. Melhor adiar a chacina para sexta-feira”. No dia marcado não acordava, por ter ficado a ver bonecos animados japoneses até tarde. E chutava para a semana seguinte. Isto não é bem um terrorista, é um procrastinador. À medida que se vai sabendo pormenores sobre o rapaz, torna-se óbvio que se ia cortar. Ou ao atentado, ou a ele próprio, a manusear a catana. Aliás, basta ver que o arsenal era um bocadinho dúbio: botija de gás, gasolina e facas afiadas? Tanto podia estar a planear um atentado, como um churrasco.

Mesmo assim, e apesar de o jovem ter ficado em prisão preventiva, houve estudantes a entrarem em pânico. Inclusive, houve alguns que até se baldaram aos exames marcados para 6ª feira. Isto para um atentado que, lembro, não chegou a ocorrer. Esta não é uma geração ansiosa para entrar na vida adulta, é só uma geração ansiosa. A universidade anunciou logo que ia prestar apoio psicológico, mas um aluno revelou que habitualmente já há muita procura para apoio psicológico, o que significa que se vai formar uma lista de espera. Ora, essa espera vai gerar ansiedade, o que fará com que os alunos precisem ainda mais de apoio psicológico. Se calhar, para evitar tanta ansiedade, é melhor acabarem com o apoio psicológico.

Alguém devia contar aos jovens como os londrinos responderam ao Blitz com “keep calm and carry on”. Por outro lado, ouvirem falar da 2ª Guerra Mundial e de bombardeamentos pode traumatizá-los. É melhor não.

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