Uma expressão portuguesa. Uma expressão universal. Lembremos a música do Frank Sinatra, That´s lifeThat’s all the people say… Com altos e baixos lá vamos todos vivendo a vidinha. Umas vezes felizes, outras tristes, esperançosos e desgostosos, a vida é tão mais colorida quanto mais experiências vivemos. Se à primeira vista, esta expressão pode soar a resignação com teor amargo, não deixa de revelar é uma capacidade de relativizar, de aceitação dos tais movimentos ascendentes e descendentes. Frase de gente madura e com experiência de vida acumulada.  Sabedoria do senso comum.

Lembremos o filme do Robert Altman, de 1993, Short Cuts: Cenas da Vida, com uma multiplicidade opulente de personagens. Vidas cruzadas de alguns com  outros, cenas de intimidade onde nos sentimos dentro de portas nas tramas de cada dinâmica. Vidas algumas tão diferentes entre si, cada qual com a sua carga dramática e em simultâneo uma rica perspectiva da realidade abrangente de todos. Somos assim capazes de nos identificar com a idiossincrasia de cada um, com a experiência de todos. A forma como a narrativa é apresentada, todos são protagonistas e como tal, o nosso olhar é igualmente transversal ao captar a vivência interior um a um. No fim, saímos desta imersão cinematográfica talvez mais humanos, pois ao mergulhar no âmago de cada personagem, alcançamos a compreensão de todos, sem julgamentos e maior conhecimento da vida(s). Em sintonia, lá ressoa de fundo a música do Sinatra, apurando o sentido do filme.

Quanto mais histórias de vida conhecemos, mais entendemos o significado disto do que é a vida… Ampliamos o entendimento das possíveis situações e circunstâncias vividas por cada um, por cada vida, pelas diferentes fases de uma mesma vida. Alcançando um conhecimento profundo das múltiplas vidas, tecemos uma maior capacidade de aceitação do sucedâneo de acontecimentos connosco e com os outros, ora sendo nós ou os outros o objecto de observação. E assim com esta perspectiva, perante as situações difíceis, podemos até sair de um lugar de auto-comiseração e vitimização. Afinal, entendendo a dimensão humana (universal) que vivemos, ganhamos consciência e responsabilidade em mudar o rumo. Podemos escolher melhor ou aceitar somente transformar a experiência em conhecimento e antecipar novas e melhores situações para a futuro. Evoluímos como pessoas ao colecionar a diversidade das múltiplas experiências, e assim integramos os aspectos bons e maus da vida de modo cada vez mais maduro e com respeito pelo que é plural e diferente. E, podendo haver aparentemente vidas mais fáceis do que outras, não se pode categorizar da mesma forma em relação às experiências das vidas interiores, afectivas e reflexivas de cada um, umas melhores do que outras. Todas as vidas possuem um profundo interesse e valor.

anaeduardoribeiro@sapo.pt

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