Lembram-se daquele outro Senhor que descansou ao sétimo dia, o Preguiçosão? Pois bem, esqueçam esse Madraço, porque ao nono dia da cimeira do clima, em Glasgow, eis que surge, fresquinho, Barack Obama. E logo a protagonizar o momento de maior euforia do certame, com a tranquilizadora garantia de que os EUA estão de volta” à acção climática e preparados para assumir um papel de liderança”. Ufa, que alívio, pá, ouvir isto, para mais da boca de um dos arquitetos do estupendo Acordo de Paris. Acordo de Paris que, agora que penso nisso, ao nível da arquitectura, é muito semelhante a qualquer um dos trabalhos do arquitecto Tomás Taveira: dá ideia de ter sido feito por uma criança de oito anos, custa uma pipa de massa e, como é óbvio, não tem ponta por onde se lhe pegue.Mas, atenção, que se vão retomar os objetivos do Acordo de Paris, e é à séria. Quer dizer, se entretanto alguém encontrar os guardanapos em que os delegados ao evento de 2015 escrevinharam os objectivos absolutamente irrealistas, baseados em dados completamente enviesados, financiados ninguém sabe como, e de verificação virtualmente impossível, a que comprometeram os seus países, como é evidente. Sendo que temo que, com estes aumentos de preços, resultado também do aumento dos combustíveis, produto, entre outras coisas, de políticas energéticas desastrosas, há muito os ditos guardanapos tenham já feito as vezes de papel higiénico. Pelo menos enquanto adepto da reciclagem assim espero, pois seria sinal de que, apesar de tudo, o Acordo de Paris teria tido alguma utilidade. E das que reputo de mais nobres.

Que isto não nos deixe perder de vista o enérgico messias da COP26 porque, na sua passagem pelo evento, Barack Obama sublinhou que a jovem Greta Thunberg inspirou milhares de jovens em todo o mundo a lutarem contra as alterações climáticas e mostrou-se satisfeito porque, agora, o mundo está cheio de Gretas”. Acompanhem-me, por favor, no esforço de me abstrair da polissemia desta última frase de Obama, e concentremo-nos no fundamental da questão. Portanto, para Obama é estupendo que o mundo esteja cheio de Gretas Thunbergs. Ou seja, é óptimo que o mundo se deixe encantar por indivíduos de discurso tão fácil quanto vazio, que demonstram grande capacidade de mobilizar as massas. Enfim, é tudo menos surpreendente o encanto de Obama perante tais habilidades, uma vez que foram essas exactas habilidades que o levaram à Presidência dos Estados Unidos da América, e foram essas exactas características que demonstrou no exercício dos seus mandatos. É até bastante apropriado dizer de Barack Obama que “il est Greta”.

Ainda em Glasgow, o Greta norte-americano lançou o seguinte apelo: A todos os jovens que aí estão, bem como a todos os que se consideram jovens de espírito: quero que continuem furiosos. Quero que continuem frustrados.” Conselho também ele soberbo, por banda do ex-Presidente dos Estados Unidos. Quantas vezes não ouvi eu este mesmo conselho dos meus pais: “Eh pá, Tiago, tem fúria que tudo se resolve. Tu não podes deixar de ficar frustrado sempre que alguma coisa não corre como tu queres, filho.” Quantas vezes não ouvi eu isto. Foram algumas… hum… sei lá… ora bem, uma, duas… hum… zero vezes. Exacto, foi isso. Escutei este conselho zero vezes. Como foi possível, mãe?!

Bom, mas a verdade é que há problemas ambientais. Isso é inegável. E o último desses problemas de que tive conhecimento é o de que andamos a comer peixe a mais. Portanto, temos de comer menos peixe para garantir a sustentabilidade dos oceanos. Está bem? Ah, e não se esqueçam, claro, que também temos de comer menos carne. Porque o gado é porcalhão, descuida-se, e depois lá vai o metano para a atmosfera. Isto é, o ideal é não comer peixe, nem comer carne. Bom, bom, é adoptar uma dieta toda ela à base de insectos. E, já agora, não gastar electricidade. Porque grande parte da electricidade é gerada por centrais a carvão. E água também. O ideal é não a consumir, de todo, para preservar as reservas de água doce do planeta. “Sim, mas se não consumirmos água morremos ao fim de três dias”, dirão alguns de vós, armados em fisiologistas. Ó meus amigos, e então? Em vez de andarem a trabalhar ao nono dia da COP26, como o senhor Obama, ou de pararem só ao sétimo dia, como o outro Senhor, descansam logo ao terceiro dia. Bem bom.

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