Foram esta semana divulgados os rankings das escolas portuguesas organizados em função das classificações nos exames nacionais do ensino secundário de 2021. E, como nunca, têm surgido argumentos – alguns, duma estranha dureza – que entenderam tomá-los como um pretexto para se acentuar uma clivagem entre a escola pública e o ensino particular e cooperativo. E não entendo porquê.
Em primeiro lugar, como (desde há muitos anos) tenho vindo a afirmar, não sou um apaixonado por estes rankings. Porque me parece abusivo pressupor que, por se ter alunos com melhores resultados nos exames nacionais, se conclua que uma escola será melhor que outra. Seja pública ou privada, claro. Mas é demagógico que se insinue que as escolas privadas são batoteiras com as notas, até porque há cada vez mais inspeções a escolas públicas que terão infeccionado as classificações dos seus alunos. É claro que não é demagógico que, ano após ano, haja um lastro de suspeição em relação a uma ou outra escola que apresentam discrepâncias quase inacreditáveis entre as classificações internas e as notas dos exames. Inacreditável é que pareça acontecer quase nada a essas escolas. Mas é, ainda, claro que, por existirem estes exemplos, não é razoável que se tome o todo pela parte e que daí se conclua que todas as escolas do ensino particular e cooperativo sejam habilidosas com as notas. Por mais que, por exemplo, seja escorregadio comparar escolas da grande Lisboa e escolas do interior. Escolas que seleccionam os alunos com quem entendem trabalhar e escolas muito mais inclusivas. Ou escolas que convidam os alunos a abandonar um estabelecimento de ensino e escolas que, pelo contrário, convivem com planos de recuperação a torto e a direito. Sejam públicas ou privadas. No entanto, o que temos em mãos são, unicamente, as notas dos exames nacionais. E nada mais.
Mas a escola não merece que se entre pela demagogia a propósito das classificações dos exames. Divulgue-se o ranking noutra data que não seja “em cima” da altura dos pais escolherem novas escolas para os seus filhos, deixando-se de fazer das notas nos exames um instrumentos de marketing. E não se afunile nestas notas a discussão sobre a missão da escola. Porque, por aí, estamos todos a contribuir para que ela não mude tanto quanto os professores, os pais e os alunos mais querem.
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