Um vírus é constituído por várias proteínas diferentes. As vacinas contra a Covid-19 são quase todas focadas na resposta imunitária contra apenas uma proteína. A proteção que a vacina confere não é por isso tão robusta como a proteção que a resposta contra a infeção com SARS-CoV-2 confere, já que durante a infeção o sistema imunitário produz defesas, como anticorpos, células T citotóxicas e células B de memória específicas contra várias proteínas diferentes do vírus. Esta robustez imunitária torna os ex-infetados mais resistentes também a próximas variantes do vírus, pois “obriga” a variante a ser, digamos, muito mais diferente.

Como já foi dito pelo Dr Pedro Simas aqui, é importante, nesta fase, que os indvíduos vacinados entrem em contacto com o vírus. Indivíduos vacinados não terão sintomas e geram a hipótese de reforçar a sua imunidade contra SARS-CoV-2 e assim se preparam devidamente para o próximo inverno e futuras variantes.

Várias autoridades têm vindo defendendo a manutenção das restrições, afirmando que é preciso vacinar mais grupos etários e que é preciso conter a progressão das variantes. Ora, sabendo que a vasta maioria de pessoas acima dos 60 anos já foi vacinada, o risco de morte e até de internamento fica automaticamente reduzido a valores quase insignificantes. No que diz respeito à contenção de variantes, o argumento é ilógico (aqui estou a tentar ser simpático). A população mundial é de 7 mil milhões de habitantes. A progressão das variantes é inevitável e, na verdade, a vacinação acaba por “pressionar o vírus” a mutar-se, ou seja, variantes capazes de infetar indivíduos vacinados vão progedir mais do que variantes incapazes de infetar os vacinados.

Esta é a altura de desconfinar totalmente, com a ressalva de que indivíduos acima dos 50 anos não-vacinados e com condições de saúde associadas ao risco de sintomas agravados, como a obesidade, devem manter as restrições sanitárias adequadas.

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Sabemos que durante o verão somos menos susceptíveis às doenças respiratórias e com a vacinação recente temos uma janela de tempo ideal para nos reforçarmos imunologicamente como população. Não se trata de imunidade de grupo tradicional, em que a partir de determinada percentagem de indivíduos imunes os vírus deixam de transmitir e desaparecem. Não, SARS-CoV-2 nunca irá desaparecer. Mesmo que um dia sejamos incapazes de detetar casos de Covid-19, uma pessoa algures no mundo terá uma nova variante capaz de se disseminar pelo mundo todo.

Isto não é um problema, os muitos coronavírus que se transmitem pela população humana fazem-no há milhões de anos, oferecendo tipicamente apenas alguns sintomas ligeiros. O mesmo irá acontecer com SARS-CoV-2 a partir do momento em que deixar de ser uma novidade para o sistema imunológico humano.

Na minha opinião, é também incompreensível a obsessão na vacinação de todos os grupos etários. Em nenhum momento se deveria pensar em vacinar pessoas com menos de 40 anos, com a exceção óbvia de profissionais de saúde, especialmente funcionários de lares de idosos.

É desejável que a população jovem se torne num reservatório endémico de SARS-CoV-2, sem pressão mutacional adicional causada pela vacinação, e ofereça o contacto com o vírus aos já vacinados. Os coronavírus sempre estiveram entre nós. Na verdade, são mais velhos do que nós humanos e nunca irão desaparecer. É altura de juntar o SARS-CoV-2 ao lote dos velhinhos e relativamente-inóquos primos coronovírus, “atualizando” o nosso sistema imune para lidar com ele.

Com a atual estratégia, no pior cenário, os casos vão-se manter baixos – à volta de 500 casos por dia até ao inverno. Nessa altura, uma variante de outro país irá introduzir-se em Portugal para a qual as vacinas já não funcionam. No pico da incidência das infeções respiratórias, normalmente no fim de Janeiro e princípio de Fevereiro, iremos ter de novo uma saturação hospitalar incontrolável. Na minha opinião, as vacinas vão ter uma imunidade mais duradora, mas a verdade é que não temos forma de garantir isso. Se deixarmos o vírus disseminar pela população já parcialmente vacinada, nesta altura garantimos a proteção para o próximo inverno e para sempre.