É natural que num tempo de presença assoberbada de notícias ambientais, desastres e recordes climáticos, e de menor visibilidade de lideranças inspiradoras, se diga que temos a juventude com mais eco-ansiedade (ou ansiedade ecológica).

Todos as semanas somos bombardeados com mais um recorde de temperaturas, ou a “maior cheia das últimas décadas” ou secas que duram vários anos.

Esta sobrecarga de informação origina um sentimento de impotência que se conjuga com o peso de responsabilidade de não querermos ser passivos, ou indiferentes, gerando ansiedade pelo estado do mundo em que vivemos hoje e iremos viver no futuro.

No entanto, este é um sentimento suscetível de desmistificação quando damos a oportunidade de olhar para a realidade e ver o caminho que fizemos e conhecemos o caminho que estamos a fazer.

Para tal, tentei usar o máximo possível de links e de fontes diversas e credíveis, de forma a que quem queira possa aprofundar o seu conhecimento.

Existe algum caminho?

No caso de Portugal, num exemplo raro de “anti cultura do desenranscanço” e enveredando pelo planeamento a longo prazo, o país tem um roteiro para a neutralidade carbónica que define o caminho que estamos a fazer até 2050 sermos neutros em termos de emissões de gases de efeito estufa (GEE).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Aprovado o roteiro em 2019, acabou em 2021 a produção de eletricidade com base no carvão, antecipando em 8 anos a meta definida. Por outro lado já disparou a potência de base solar que atinge hoje os 4 GW (multiplicou-se por quase 4x desde 2020) equivalendo a 2/3 da potência eólica existente, que em breve ultrapassará largamente. Em poucos semestres a potência solar alcançou 15% do total nacional de produção elétrica e no Plano Nacional Energia e Clima 2030 chegará a 20 GW (ou seja, irá multiplicar por 5 o que existe hoje).

Olhando para a mobilidade elétrica, a quota nacional de mercado dos veículos eletrificados (ligeiros e pesados) deu um salto significativo de 2022 para 2023, de 32% para 40%, ou seja, ainda não tendo atingido as economias de escala que se pretende que coloquem os carros elétricos a preços próximos dos de motor a combustão, vamos em 2 em cada 5 carros vendidos serem elétricos ou híbridos.

Começa a crescer também de forma progressiva toda a rede de postos de carregamento e chegará em Portugal aos 10.000 postos este ano. Para se ter noção comparativa, no ano passado havia 3.274 postos de combustível no nosso país, mesmo sabendo que os números não são diretamente comparáveis.

Já se fez uma parte da mudança nestas áreas e há muitas mais que virão nos próximos anos e décadas.

Estamos a começar a ver a chegada do armazenamento de energia de múltiplas formas, e dentro de poucos semestres teremos funcionais os mercados de carbono.

Estes mercados visam dar um valor monetário a todas as atividades que retirem o dióxido de carbono e o armazenem fora da atmosfera. No caso português, prevê-se que irão valorizar o crescimento de florestas com biodiversidade e criar oportunidades para cuidar da floresta. Já existem noutros países e na Austrália o valor da biodiversidade tem sido ainda mais forte do que na simples retirada de carbono da atmosfera.

Mais adiante daqui a alguns anos veremos a chegada do hidrogénio, da transição da indústria pesada, transportes pesados, barcos e aviões.

Este é o caminho que estamos a fazer em Portugal, e que já começou em 2019. Em 5 anos já fizemos algum caminho.