Vivemos uma das melhores e mais motivantes fases para quem gere marcas e o marketing, neste caso, na área politica. Porquê? Com o crescente acesso à informação transmitida por pessoas que, na nossa rede, nos são credíveis aquilo que transmitimos pode ser comprovado por quem confiamos. No fundo, a informação que nos chega pode ser mais facilmente comprovada, do que no passado.

Além do mais, estas eleições acrescentam vários fatores que tornam a decisão do eleitor mais complexa, mas provavelmente mais consciente: o regresso de antigos presidentes de camara com elevada exposição mediática, as candidaturas independentes ou mesmo o crescente assumir das mulheres enquanto líderes politicas.

Alguns estudos de tendências revelam também que a sociedade é cada vez mais internacional, menos nacional e mais local. Implicará, assim uma maior transparência das politicas e dos políticos na forma consistente com que demonstram a sua dedicação e contributo para com essa sociedade local, que conhece bem a realidade, as necessidades e as expetativas da sua região.

O que implicarão estes fatores para a gestão da imagem de cada candidato e partido? O que defendo não é muito diferente do que sempre deveria ser: uma promessa ou prova da sua idoneidade, transparência e autenticidade. Acredito que com a chegada dos meios digitais as pessoas têm mais acesso a melhor (e pior) informação, produzem informação relevante para a sua rede, influenciam outros, mas acima de tudo conseguem comprovar se tudo o que é prometido é cumprido, ainda mais a nível local!

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A parte emocional da decisão de voto é sempre importante numa era em que falamos sempre das love brands que de alguma forma sentimos como nossas. Considero que estamos numa fase clara de transição a que muitas vezes digo nas minhas aulas sobre as true brands: marcas que são o que são, com as suas imperfeições e virtudes, com as suas lacunas e erros, mas que acima de tudo são autênticas, que não se escondem e que procuram melhorar.

Com os recentes acontecimentos políticos seguidos de anos e anos de desconfiança públicas nas politicas e políticos, os eleitores procuram pessoas comuns e não tanto os partidos porque mais facilmente percebem o seu carácter, as suas crenças, provas de verdade e contributo para o bem comum.

A chegada de candidatos que outrora foram políticos relevantes no seu concelho torna ainda esta luta mais peculiar e de resultados mais inesperados (mais de 16% dos “dinossauros” de 2013 vão voltar a tentar a sua sorte segundo o Jornal Púbico). A avaliação que a população local faz dos candidatos é sempre muito baseada no contributo que deu à sua terra e aqui terão mais provas. No entanto, será que os casos mediáticos em que alguns deles foram envolvidos poderão prejudicar esta imagem?

Esta é assim uma época complexa, mas motivante para qualquer profissional na área de marketing politico: como se potencia o incremento de votos quanto mais próxima da realidade é aquilo que o candidato diz, mas também se provou ser ou fazer?

Será que os novos candidatos sem muitas provas terão um voto de confiança por não estarem (supostamente) ligados a interesses que possam por em causa a sua transparência e palavra perante as suas promessas?

Será que os candidatos independentes irão continuar a aumentar o seu território pelo seu maior afastamento das máquinas partidárias?

O candidato politico confunde-se hoje, e como nunca, com a sua marca pessoal. A fronteira é ténue e cada vez mais exposta e ao arbítrio de cada um. A transparência será o elemento que a sociedade irá pedir a todos, sem contemplações.

A politica tem de se refundar e afirmar. Não existe má politica, mas sim maus políticos (assim como acontece com o marketing). Uma atividade tão nobre e útil deve ser defendida e praticada pelos melhores, esses seres humanos imperfeitos, mas autênticos como todos, mas que sentem um propósito único de ajudar o seu local e as suas pessoas.

Para afirmar uma marca temos de ter tempo, ser consistentes e coerentes, mas ainda mais ser autênticos. É assim que vejo a politica e o seu futuro, até porque os líderes não são sonhadores, mas sim os fazedores que provam a sua palavra e postura diária, mesmo que com tantos erros como todos.

Diretor de Mestrado do IPAM Porto, especialista em Marketing Estratégico