10 de Novembro de 2015. Talvez esta data já diga pouco ao caro leitor, mas foi neste dia que a política portuguesa mudou definitivamente. Após da aprovação da moção de rejeição do governo PSD/CDS, António Costa assinou três acordos que lhe permitiram formar governo. Caía assim o muro que separava o PS da sua extrema-esquerda e lhe permitia governar sem ganhar eleições. O PS governa há 7 anos, o último ano em maioria absoluta, apenas porque foi capaz de, em 2015, fazer algo até então inédito, ou seja, conseguiu trazer para o arco da governação, dois partidos até aí de protesto, BE e PCP.

A primeira prova de que nesse dia a política portuguesa mudou para sempre foi o acordo alcançado por PSD, Chega, IL, CDS e PPM para a governação nos Açores. À semelhança de 2015 no Continente, nos Açores o PSD assinou acordos separadamente com as outras forças políticas, conseguindo assim uma maioria parlamentar que lhe permite governar. Até à data, tem corrido bem, sobretudo para os açorianos.

O acordo nos Açores tem dominado a campanha interna para a liderança da Iniciativa Liberal, sendo esse o tema que mais aproxima os principais candidatos, Rui Rocha e Carla Castro. Ambos não o querem ver replicado no continente; apenas José Cardoso parece ter uma posição diferente desta.

A ideia de Carla Castro e Rui Rocha parece similar, ambos querem negociar directamente com o PSD, deixando nas mãos do Chega o ónus de aprovar ou não, a solução governativa encontrada por estes dois partidos. Esta fórmula padece, do meu ponto de vista, de enormes fragilidades:

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  1. Algum dos candidatos já perguntou ao PSD se quer fazer um acordo de governação só com a IL deixando de fora o Chega? Estará o então líder do PSD disponível para ver o seu governo cair, por não querer negociar com o Chega?
  2. André Ventura já disse que derrubará um governo de direita se os votos do Chega forem necessários para o viabilizar e se não for chamado para negociações. A pergunta que deixo é esta, estarão os candidatos Carla Castro e Rui Rocha na disposição de verem o seu governo derrubado pelo Chega? Quais serão as consequências? Juntaremos seguramente a uma crise económica uma crise política, com eleições de 6 em 6 meses, a instabilidade política fará com que os juros da dívida subam, rastilho para um agravamento da crise económica. No final, provavelmente, quem voltará a formar governo será novamente o Partido Socialista. Estarão estes candidatos realmente dispostos a jogar póquer com a vida dos portugueses?

O momento que o país atravessa é sério demais, é difícil demais, é crucial demais para jogos de póquer. Os portugueses exigem respostas aos problemas que atravessam e, acredito eu, penalizarão seguramente os partidos e os protagonistas políticas que coloquem os seus interesses pessoais e partidários à frente dos interesses do país.

Deixem-me ser claro, acredito que o melhor para o país seria um governo que incluísse PSD/CDS/IL, este seria o cenário ideal, infelizmente tal cenário não parece plausível, pelo menos a fazer fé nas últimas sondagens. Caberá ao futuro líder da IL trabalhar para que se verifique, e, se não o conseguir, exige-se que ponha o país primeiro, trabalhando para uma alternativa ao socialismo vigente.