A aprendizagem ao longo da vida e a necessidade de atualização das competências da população adulta são hoje grandes desafios do país.

A rápida evolução científica e tecnológica tem tornado a nossa sociedade um lugar de exclusões silenciosas. Estamos todos mais ligados, mais próximos, mas também mais distantes na linguagem e nos nossos contextos.

A tecnicidade da linguagem das notícias torna-as hoje dificilmente entendíveis por uma grande franja da população, os dispositivos tecnológicos inovadores estão substancialmente distantes do poder médio de compra do cidadão português e a literacia digital muito desfasada do real acompanhamento das tendências comunicacionais.

Não sendo uma realidade exclusivamente portuguesa, é bem evidente a urgência da aposta do país na formação contínua da sua população, tanto mais quando partimos de um défice crónico de qualificações no nosso país.

Com a entrada no terreno do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) reemergem novos impulsos face a esta urgência e ao caminho de convergência com a Europa que temos vindo a traçar.

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É bom de ver que em matérias complexas não existem soluções milagrosas e o PRR, por si só, dificilmente se bastará a si próprio como instrumento de política pública. Mas é fundamentalmente na sua ação conjugada com as ações que têm vindo a ser desenvolvidas que ele pode ganhar relevância, nomeadamente nesta matéria.

O pacote de 130 milhões do Impulso Adultos, apresentado esta semana com vista à conversão e atualização de competências de adultos ativos em cursos de formação superior, deve ser entendido como parte de um esforço muito significativo que tem vindo a ser desenvolvido no sentido de criar as condições necessárias para a adaptação das instituições de ensino superior aos desafios societais emergentes.

A formação executiva, pós-graduada e de curta duração (TESP) da população ativa é hoje um desafio social absolutamente fundamental e que beneficia de mudanças ocorridas num espaço temporal reduzido, mas que criam hoje a infraestrutura necessária para uma resposta alargada da rede.

O Ensino Superior Politécnico tem, neste computo, ganho particular centralidade e conquistado um espaço de fundamental relevância no contexto institucional do Ensino Superior que deve ser realçado. As Escolas Politécnicas estão hoje a ministrar cursos TESP em 112 municípios, 48 dos quais em territórios de baixa densidade, conferindo uma implantação territorial muito expressiva que terá que ser agora reforçada para este novo impulso que urge empreender.

A linha de valorização do Ensino Superior seguida por Manuel Heitor e, muito em particular, do Ensino Superior Politécnico congrega uma marca de modernidade no desenho de um sistema de Ensino Superior mais capilar, aberto a diferentes perfis de alunos e com diferentes abordagens científicas e pedagógicas, contribuindo para corrigir algumas debilidades de um sistema com caminho a percorrer na diversificação da sua oferta e na democratização do seu acesso.

O futuro do sistema passa pelo desenvolvimento da sua complementaridade, da sua especificidade, assim como pela sua abertura ao trabalho colaborativo entre associações locais, entidades públicas e privadas, tal como nos tem sido demonstrado nos últimos anos pelo sucesso dos TESP e dos Laboratórios Colaborativos.

A reforma da rede de Ensino Superior e Ciência é um chavão conhecido sobre o qual até hoje nenhum consenso – ou proposta consequente – foi conseguido. Sabemos que a maior reforma do sistema é a que surge da alteração de paradigmas de funcionamento institucional. E, aí, vão sendo dados os seus passos.

Caderno de Apontamentos é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.