É verdade que não há nada mais difícil do que sermos pais. E é, também, verdade que somos infatigáveis e crescemos, crescemos, crescemos, todos os dias, com os nossos filhos. Mas numa coisa fazemos mal: queremos que eles cresçam muito depressa, que eles “dêem nas vistas” muito depressa e que sejam “bons” muito depressa. E compreende-se porquê: somos pais! Mas se tanta pressa no seu crescimento nunca seria uma forma avisada de os querermos a dar passos firmes em direcção ao seu futuro, num mundo em que os nossos filhos têm mais apelos, mais vida e mais fontes de informação — e, portanto, precisarão de mais tempo para crescer — toda esta pressa pode comprometê-lo. Muito mais do que parece.

Na verdade, a nossa ideia de um futuro melhor para os nossos filhos é, muitas vezes, um bocadinho “trapalhona”. E isso é mau! Nós trabalhamos muito para que eles tenham escola e mais escola. E oportunidades. E “mundo”. E tudo o mais. Mas queremos que eles ganhem o futuro demasiado depressa. E essa agitação em relação a ele precipita-nos e estraga-o. Em primeiro lugar, porque o seu presente não é nem tão livre nem tão bom como tudo aquilo que nós vivemos nas suas idades. Depois, porque não lhes damos o tempo indispensável para que eles sejam crianças. Mesmo quando todos sabemos que crescer depressa nos dá a ilusão de descobrimos, mais rápido que os outros, o “mapa do tesouro”, e nos ajuda a perceber, muito antes deles, que crescer rapidamente e crescer melhor não são a mesma coisa. A seguir, porque eles crescem connosco a tentar agradar-lhes muito mais do que a contrariá-los, tanto como precisam. E com eles a reclamar e a impor mais vezes os seus ritmos do que nos tendo a nós a definir as suas regras.

Ou seja, eles têm qualidades e oportunidades como nós nunca tivemos, mas nem sempre têm o tempo de que precisam e as melhores condições para chegarem ao futuro. Porque passamos a vida a dizer-lhes que eles são “acima da média”, únicos e “foras de série” e, em conjunto com a escola, não fazemos mais nada do que transformá-los em “produtos normalizados”. Porque os empurramos para que tenham boas notas, mesmo quando não as merecem, por mais que, todos saibamos, que o sucesso de hoje não é sempre “o” preditor da felicidade de amanhã. Porque lhes criamos a ilusão que os vencedores são os que ganham sempre e nunca aqueles que aproveitam mais vezes e melhor as suas derrotas. Porque — por mais que ter notas, ter sucesso educativo e aprender nem sempre se “alinhem”, como todos desejaríamos – -os “empurramos” para que eles condicionem as suas escolhas pela garantia de um emprego e pelo expectativa de ganharem muito dinheiro, muito depressa, quando terminam um curso, muito mais do que deixarem as suas escolhas ser guiadas pelos seus amores. Por mais que todos saibamos que as escolhas, condicionadas, sobretudo, pelo dinheiro tenham grandes hipóteses de serem meio-caminho andado para que os nossos filhos acabem em empregos de circunstância, em empregos precários, “explorados” e a ganhar mal.

Na verdade, as nossas intenções são as melhores. Mas a nossa pressa estraga tudo. Como estraga a forma como os poupamos a quase todas as dificuldades, mesmo que isso não os educa para que, de modo próprio, eles sejam tão capazes de esperar, de sonhar e de projectar como precisam. Porque lhes facilitamos a vida; vezes demais. E mais do que devíamos. Mesmo que, com isso, eles se tornem menos capazes de transformar contrariedades em factores de crescimento. Porque a nossa vaidade pelas suas vitórias prevalece, muitas vezes, sobre a verdade das suas dificuldades. E porque não os incentivamos a arriscar e a ter um “curriculum de falhanços” que lavre com humildade todas as capacidades que eles, de facto, têm.

A nossa ideia de futuro para os nossos filhos parece ser muito ansiosa. Como se a vida deles “terminasse” aos 15, no décimo ano. Ou, quando muito, três anos depois. Podem eles ser felizes quando lhes damos tão pouco tempo e recursos de menos para estarem preparados para o futuro? Podem. Mas com mais dificuldades, com mais decepções e com mais dor do que teriam se não fôssemos, hoje, tão precipitados, tão impulsivos e tão imediatistas em relação ao seu futuro. Injustiça das injustiças, entre os obstáculos dum futuro melhor para os nosso filhos podemos estar nós. Que, na ânsia de os querermos muito bem, muito depressa, não aceitamos que o futuro precise de mais tempo e de melhores condições para que, muito depressa, ele não se torne “longe” demais.

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