É um «relatório internacional», dizem, Sic, Expresso e Tvi. Um «relatório internacional» que denuncia o crescimento do «extremismo de direita» na Europa — e do Chega em Portugal, evidentemente. Sic, Expresso e Tvi nunca identificam os autores do extraordinário «relatório internacional». Ora, quando Sic, Expresso e Tvi não identificam estas coisas, Sic, Expresso e Tvi suscitam, decerto involuntariamente, suspeitas. Que «relatório internacional» será este? Será um «relatório internacional» de estudiosos e analistas internacionais, de gente com curriculum e probidade?

Pois, que maçada, não é. O «relatório internacional» é um manifesto assinado por três organizações de extrema esquerda, uma, inglesa; a outra, sueca; a outra, alemã. São organizações de extrema-esquerda (dessas onde costumam esconder-se os extremistas), anti-racistas (dessas onde costumam esconder-se racistas em geral), ou anti-semitas (dessas que gritam contra a islamofobia).

Esperança? Não, Ódio!

A primeira signatária do grande «estudo internacional» é a ONG Hope not Hate, que foi fundada e é dirigida por Nick Lowles. Lowles é um activista de extrema-esquerda, e a organização diz-se anti-fascista. Certa vez na revista Spectator, Douglas Murray interrogava-se, exatamente a propósito da Hope Not Hate, sobre por que seria que tanta gente que se proclama anti-fascista age exatamente como agiriam os seus inimigos, «aos gritos, aos berros, marchando, lutando, ameaçando», chamando «lixo» e defendendo que sejam «esmagados» todos os que não pensam como eles? E mais revelava Murray que a Hope Not Hate publicara uma lista de 10 grandes islamófobos, um dos quais era uma dinamarquesa, jornalista e defensora da liberdade de expressão, que depois foi visitada por um assassino.

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A Hope Not Hate fez campanha contra o Brexit, evidentemente, proclamando coisas carateristicamente extremistas, como: «É nossa convicção que a direita radical, dentro e fora do Partido Conservador, está a utilizar um hard Brexit para mudar drasticamente a sociedade britânica — e mudá-la para pior.»

A «direita radical» dentro e fora do Partido Conservador conquistaria seguidamente uma vitória histórica nas eleições para o Parlamente. O povo britânico é maioritariamente fascista, há de pensar, odiosamente e sem esperança, a Hate Not Hope.

Expor o Quê?

A segunda signatária é a Expo (era o nome de uma revista antes de ser o de uma ONG), uma organização sueca fundada por Stieg Larsson. Larsson foi o autor da famosa trilogiaMillenium. Nasceu em 1954 e morreu de ataque cardíaco com 50 anos. Era um extremista de esquerda: os muitos milhões do seu legado, resultantes dos milhões de exemplares de livros vendidos e dos direitos cinematográficos deixou-os ele ao Partido Comunista da terra. Mas como o testamento não tinha sido reconhecido e nem havia testemunhas não foi validado. Disputam o legado a mulher com quem vivia e a família de sangue.

A Expo gaba-se de ter o maior arquivo (a tendência «arquivista» é muito forte em certas mentes, e bem conhecida de outras áreas) de material da extrema-direita na Suécia e internacionalmente. Mas, tal como com a Hope Not Hate, há boas razões para crer que para a Expo seja extrema-direita toda a gente que não seja de extrema-esquerda.

O que é que o António tem a ver com a Stasi?

A terceira signatária é a AAS, António Amadeu Stiftung (Fundação), alemã. O nome português é o de um imigrante angolano assassinado por um grupo racista. A AAS é, evidentemente, uma organização anti-racista. Curiosamente, parece ter descoberto que anti-racismo e anti-nazismo são mais fortes onde racismo e nazismo «desde sempre foram confrontados», ou seja, na área da antiga Alemanha comunista, dita «Democrática»; e que racismo e nazismo estão mais presentes na área da antiga República Federal da Alemanha, a Alemanha livre e capitalista. Explicará, talvez, alguma coisa que a presidente do conselho de direcção da fundação Amadeu António seja a senhora Anetta Kahane, uma cidadã da antiga Alemanha comunista, que foi informadora da Stasi, a polícia secreta dos torcionários «democráticos».

E só mais 3 perguntinhas:

Estes 3 breves e pequenos blocos informativos sobre os autores do magnífico «estudo internacional» ferem de alguma maneira a credibilidade do «estudo internacional» magnífico?

Pois, realmente ferem.

E Sic, Tvi ou Expresso não se lembraram de creditar os autores do brilhante «estudo internacional»?

Pois não, não se lembraram!

E porque é que Sic, Tvi e Expresso não se deram ao trabalho de explicar quem eram os autores do estudo internacional «brilhante»?

Bem, talvez por isso ser jornalismo.