Quando os liberais escolheram Joe Biden, sabiam bem que seria uma escolha a prazo. Acreditavam que podia ganhar a Trump, como se provou, mas claramente preferiam alguém com outro perfil, como Kamala Harris. Porém, se o carisma ganha eleições e a simpatia do povo, não significa à partida boas presidências. Um claro exemplo disto foi o flop Obama, ainda tão respeitado numa grande franja da população americana, mas cujo legado foi pouco mais do que sofrível e ficou muito aquém das reformas que prometeu, da saúde à economia: falhou na erradicação da pobreza, no controlo das armas, na transição energética e não consolidou o Obamacare, por exemplo. Quanto a Biden, o grande desafio da questão ucraniana não deverá ser decisivo, numa altura em que a política externa parece perder cada vez mais importância, face ao acumular de problemas internos que Obama e Trump não conseguiram resolver.

No recente sucesso da Netflix, de nome Não olhem para cima, alguns dos atores mais aclamados de Hollywood deixaram passar a mensagem socialista de que o Estado providenciará e é o novo deus a quem devemos entregar as nossas vidas, atacando desde logo a iniciativa privada e particularmente Elon Musk. Esta tendência de esquerda em Hollywood vem crescendo desde os anos setenta e é uma nova “caça às bruxas” – esta foi uma comissão parlamentar dos anos cinquenta que perseguia as produções “anti-americanas” ou comunistas – mas hoje em sentido contrário: tudo o que é de direita ou com valores conservadores é expurgado. Pior, a nova mentalidade “woke” é um sinal de que estamos perante o início de um movimento autocrático, autoritário, que não faz prisioneiros e que se prepara para tomar conta da sociedade americana.

Mas voltando à questão inicial, quem irá substituir o frágil e envelhecido Biden, seja no atual mandato ou na corrida às próximas presidenciais de 2024? Kamala Harris parece ser a escolha óbvia, mas a extrema-esquerda liberal há muito que exalta Bernie Sanders, que durante muito tempo teve o apoio incondicional de Jon Stewart e que agora já conta com um exército de opinion-makers, tanto na imprensa como nas grandes produtoras de televisão e cinema. Para já ainda tem muitas resistências em certos Estados, mas o intenso trabalho de marketing que está a ser feito indica que, em breve, ele ou um sucessor tomarão conta do país.

E quem temos do lado republicano? Se os receios liberais estão corretos, um Elon Musk: líder visionário, empreendedor, com nervos de aço e uma inteligência acima da média – afinal uma versão melhorada de Donald Trump, que muitas vezes pareceu mais movido a sentimentos de vingança e emoções, do que a racionalidade e foco. Mesmo com equipas de grandes economistas, técnicos excepcionais e bons autores de discursos, um presidente americano tem de saber inspirar e chegar aos corações dos seus concidadãos. Se Harris ou Trump, Musk ou outro qualquer conseguirão estar ao nível de outros do passado, o futuro o dirá. Mas uma coisa é certa na História americana: quando um presidente ou grande personagem é demasiado bom para ser verdade, normalmente é assassinado – desde Lincoln a Kennedy, passando por Martin Luther King. Por isso apostaria numa modesta Harris, a tentar repetir a fórmula Obama, até chegar a vez de um Sanders.

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