Quem, como eu, ficou a ouvir as audições desta quarta-feira estará, no mínimo, perplexo: a TAP, razão de ser desta comissão, diante do aparato dos telenovelescos acontecimentos ocorridos no Ministério das Infraestruturas, desapareceu da CPI – se há matéria para um inquérito judicial, trate-se judicialmente.

Percebemos, sem margem para equívocos, que estamos em perda democrática.

Para além da gravíssima perda de confiança nas instituições, continuada ao longo destes oito anos numa sucessão tóxica de eventos onde o aparelhismo socialista se tornou super-evidente – tal como a sua extensa rede de conexões profissionais, e até familiares, onde a coisa pública é tratada como coisa pessoal numa contaminação só vista em tempos socráticos. Isto para não falarmos da informalidade e do amadorismo na gestão do país que progressivamente tem arruinado.

É assustador que o SIS apareça como a polícia do governo socialista. É assustador que se tenha prestado a manobras de intimidação – que os seus agentes telefonem e visitem pessoas durante a noite. Pior. Accionar ilegalmente o SIS é a confirmação do ataque ao Estado de Direito. É a transição para o Estado de Susto. Quem o faz, faz porque pode. Ou seja, o sentimento de impunidade sobrepõe-se ao sentimento de dever. A lei é submetida ao eu. Eu quero. Eu posso. Eu mando.

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Nada disto é novo. Só mudou a escala. Note-se, e são apenas exemplos de um modo de exercer o poder: Galamba terá despedido por telefone o adjunto em termos ameaçadores e impróprios; Eugénia Cabaço afirma na CPI que é ela que paga o telefone de uso pessoal de Frederico Pinheiro. Entenderá que o dinheiro público é seu? E isso justifica que faça com o telemóvel de outrem o que entende? Estes exemplos inserem-se numa escola de poder socialista autoritário que tem sido politicamente promovida e branqueada nos media. Estas, sim, são as pessoas de mão do poder. Consulte-se o currículo profissional de Eugénia Cabaço. Galamba conhecemos. Que fique claro, não são questões de antipatia pessoal, nem de simpatia, devo acrescentar, são apenas exemplos da qualidade dos nossos governantes. Tal como o dossier TAP é apenas, infelizmente, o exemplo do modo de gestão deste governo.

Vejamos. Eugénia Cabaço anda pela sombra dos gabinetes do governo socialista desde os seus 28 anos. Desde 1996. Há 27 anos, portanto – nos curtos intervalos de poder socialista foi colocada como jurista na Caixa Geral de Depósitos. É a actual chefe de gabinete do ministro das Infraestruturas. No entanto, pasme-se: com toda a sua experiência profissional, os documentos sobre a reestruturação e gestão da TAP não constavam do arquivo documental, estavam apenas no computador do adjunto, repito, do adjunto, Frederico Pinheiro. E segundo a própria, terá sido ela mesma, a contactar o SIRP e a desencadear a acção do SIS. SIRP que Graça Mira Gomes lidera a convite de António Costa. Por mera coincidência, Graça Mira Gomes é casada com o embaixador João Mira Gomes, o secretário de Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar, de Sócrates. Parte relevante deste governo, aliás, transita daquele governo. E não há demérito pessoal ou curricular nisso para além de terem, então, levado o país à bancarrota.

A minha pergunta é: são só estes os socialistas? É isto o Partido Socialista?

É isto uma democracia?