O ataque à liberdade e à diferença por parte da extrema-esquerda é tudo menos uma novidade. Das purgas estalinistas na URSS aos ataques à imprensa por parte do regime chinês dos nossos dias, todos sabemos que é fácil ser de extrema-esquerda num país livre, mas impossível ser livre num país de extrema-esquerda. Todavia, temos assistido recentemente a um comportamento semelhante por parte da esquerda moderada, algo que, pese o facto de ser também previsível nos dias de hoje, é incomum.

No dia 13 de Dezembro, Miguel Costa Matos foi eleito para a liderança da JS. O seu discurso de vitória foi a machadada final na reputação de um deputado que já havia admitido preferir Xi Jinping a Donald Trump (preferindo, assim, um ditador a um presidente eleito democraticamente, apenas por preconceito ideológico). Ao enumerar os seus antecessores no cargo, “esqueceu-se” convenientemente de nomes como Sérgio Sousa Pinto ou António José Seguro, opositores internos da ala do Partido Socialista que comanda atualmente o partido, da qual Miguel Costa Matos faz parte. Sérgio Sousa Pinto acusou-o prontamente, e bem, de ter comportamentos próprios de um estalinista. Ficou então apresentada aquela que será a futura geração de um dos maiores partidos portugueses. Uma geração com tiques totalitários e fascínios de superioridade moral face aos que pensam diferente. Uma geração que se diz do PS e, portanto, da “esquerda democrática”, mas que apenas admite a democracia para os que partilham dos seus ideais. Uma geração que, apesar de se dizer do PS, não se pronunciou no dia 25 de Novembro, um dia que também foi, outrora, motivo de celebração para o PS. Uma geração que, influenciada pela batuta do politicamente correto, ameaça destruir a liberdade que muito nos custou a ganhar.

Mais recentemente, no dia 7 de Janeiro, António Costa afirmou que Paulo Rangel, Miguel Poiares Maduro e Ricardo Baptista Leite “lideram uma campanha internacional contra Portugal”. As acusações, gravíssimas e totalmente desprovidas de evidência, vieram comprovar o que se tinha vindo a tornar uma certeza – o Primeiro-Ministro lida mal com a diferença e tem falta de sentido democrático. Num tom extremamente agressivo acusa opositores políticos de serem antipatrióticos apenas por discordarem das ações do Governo e por escrutinarem o mesmo. O que em tempos passados seria visto como a democracia a funcionar na sua máxima força, é hoje usado como arma de arremesso político e como exemplo de deslealdade à Nação. Infelizmente, tal atitude não é surpreendente ou tampouco criticada pela generalidade dos meios de comunicação. Na verdade, esta insere-se na política de pensamento único que a esquerda pretende implementar em Portugal, apoiando-se numa comunicação social que, comprada na sua maioria por uns míseros 15 milhões de euros, está cada vez mais ao serviço do regime. Desta forma, António Costa confirma que, afinal, não vamos ter de esperar pelos “jotinhas” para ver o PS transformado numa versão moderna do PCP. O estalinismo disfarçado de moderação e respeito já invadiu até os círculos mais altos do partido, transformando o PS democrático que no passado conhecemos numa memória a ser revivida nos livros de História.

No entretanto, a defesa da ilegalização de um partido político tem tido um espaço mediático quase sem precedentes. De Marisa Matias, outra coisa não seria de esperar. A cultura antidemocrática do Bloco de Esquerda é algo a que estamos habituados, dados os partidos que estiveram na sua génese. Contudo, Ana Gomes, talvez com saudade do seu passado no MRPP, defende a mesma tese da ilegalização do Chega. Novamente, a cultura totalitária que se apoderou do PS vem ao de cima, reforçando que, se não for combatida rapidamente e com força, levará em breve ao desmoronar da independência das instituições no nosso país. Veja-se que uma candidata a Presidente da República diz, sem qualquer vergonha, que, se for eleita, se irá tentar sobrepor a uma decisão do Tribunal Constitucional, apenas por não gostar de um partido que, segundo as últimas sondagens, representa cerca de 10% dos portugueses. No debate que teve com Marcelo Rebelo de Sousa, no passado dia 9 de Janeiro, este afirmou que “isso é um disparate”, defendendo que “se ganha no debate das ideias, não se ganha proibindo”. Ora, esta frase do Presidente da República deveria ser algo de tão elementar numa democracia, que seria quase risível o facto de ter sido proferida em televisão. A verdade é que, na fragilidade da nossa democracia, esta frase tem sido posta constantemente em causa, levando a que o seu uso por Marcelo Rebelo de Sousa seja, infelizmente, um facto assinalável.

Temos vindo a fechar os olhos a este “estalinismo dos moderados”, iludidos pela ideia já obsoleta de que o Partido Socialista reúne os defensores da esquerda democrática e com valores. Na verdade, essas pessoas continuam no PS, mas em posições secundárias. A liderança do partido (e da juventude partidária) foi tomada de assalto pelo grupo mais radical que o PS alguma vez teve, por socialistas de fachada que, sabendo que o BE ou o PCP não têm quaisquer aspirações governamentais, se juntaram ao PS para subir na vida. O PS de Mário Soares, de Sérgio Sousa Pinto ou de António José Seguro está adormecido. Ergue-se agora um novo PS, um PS que é um novo Bloco de Esquerda, mas muito mais perspicaz e perigoso, por estar a governar. E a subjugação a que os verdadeiros moderados do PS foram sujeitos, será a mesma a que o país será sujeito se o Governo de António Costa não for constantemente desafiado e escrutinado. Outrora fomos chamados a defender os valores da liberdade, da tolerância, do respeito, pilares das democracias ocidentais contra os seus inimigos do exterior. Hoje ,somos chamados a fazê-lo novamente contra os inimigos do interior, numa exigente batalha contra uma esquerda que, disfarçada de democrata, procura destruir o que muito esforço nos custou a manter. Não abdiquemos deste combate.

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