Do ponto de vista constitucional, o estado de emergência até pode ser uma situação interessantíssima que nos chama a atenção para direitos que a maior parte de nós, que nunca viveu sem eles, praticamente nem sabia que existiam.

Mas lendo as notícias parece que poucos perceberam ainda o que está a acontecer.

O que aconteceu quarta-feira foi que esses direitos fundamentais foram colocados, por um período limitado, na disposição do governo. A maior parte dos direitos fundamentais ainda não foram limitados, ninguém sabe se chegarão a sê-lo nos próximos dias. E mesmo que o sejam, não impedirão que cumpramos as nossas tarefas profissionais na medida do que for possível dentro dos cuidados de contenção social a que esta pandemia nos obriga.

É verdade sim, que devemos fazer tudo por abrandar o contágio, mas como quarta-feira foi dito, várias vezes, de viva voz e nas entrelinhas pelos nossos responsáveis políticos, este país não pode parar. E quando se diz que não pode parar, não significa apenas que que fica suspenso o direito à greve e os estivadores devem voltar ao serviço: quer dizer que todos devemos fazer por trabalhar, na medida do possível, porque se não fizermos por isso, coletivamente, isto a que chamamos país vai correr mal. Muito mal. O Estado não está com capacidade para nos ajudar. Antes desta crise já ele próprio estava com uma crise própria, crise discutida até à exaustão e que todos conhecemos como a “crise da dívida”. Dívida que alguns políticos como Mariana Morágua defenderam publicamente que “não é sustentável nem para pagar” (DN, 29/12/2014).

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Quando esta crise sanitária passar ainda vamos ser dez milhões, mas ninguém sabe o que vai restar disto a que chamamos país.

Desejo a todos felizes e responsáveis contenções sociais.

E preparem-se.