“Os cristãos estão a ser perseguidos em cerca de 50 países, entre eles a Coreia do Norte, a Síria, Somália e Sudão. (…) A limpeza étnica de cristãos é um dos grandes crimes da nossa época e estou chocado por ter havido tão pouco protesto internacional sério.”

Este alerta foi lançado no Telegraph de Londres, na passada terça-feira, pelo Rabi Jonathan Sacks. Na mesma edição, o diário britânico dedicou-lhe um editorial. No sábado, na sua coluna na revista The Spectator, Charles Moore (biógrafo autorizado de Margaret Thatcher) voltou ao tema:

“Seria de esperar que o assassinato de cristãos gerasse particular horror em países de herança cristã. No entanto, quase o oposto parece ser verdade. (…) Os políticos ocidentais raramente protestam contra o drama dos cristãos em terras muçulmanas ou raramente lhes oferecem ajuda.”

O ponto de partida para estes alertas residiu nos ataques desencadeados na Páscoa contra cristãos no Iémen e no Paquistão. No primeiro caso, o ataque foi dirigido contra uma casa de repouso dirigida por freiras católicas. A sobrevivente, Irmã Sally, descreveu o ataque premeditado contra as religiosas e os símbolos cristãos. Um padre indiano, Tom Uzhunnalil, foi raptado e terá sido crucificado no Domingo de Páscoa.

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No seu artigo no Telegraph, Johnathan Sacks recorda outros episódios da perseguição contra os cristãos. “Em Mosul, uma das mais antigas comunidades cristãs do mundo, os cristãos foram forçados a fugir no Verão de 2014. No Afeganistão, a última igreja foi queimada em 2010. Em Gaza, em 2007, depois da chegada do Hamas, a última livraria cristã foi queimada e o seu dono assassinado.”

Jonathan Sacks, que é hoje membro da Câmara dos Lordes britânica, foi Rabi chefe das congregações hebraicas da Commonwealth entre 1991 e 2013. Acaba de receber o Prémio Templeton 2016, no valor de 1,1 milhões de Libras (cerca de 1,4 milhões de euros). O prémio é atribuído anualmente pela Fundação John Templeton, sediada na Pensilvânia, e destina-se a distinguir pessoas que tenham dado “contribuições excepcionais para a afirmação da dimensão espiritual da vida, quer através da reflexão, da descoberta ou da acção”. Entre os anteriores premiados incluem-se Desmond Tutu (2013), Dalai Lama (2012), Michael Novak (1994), Inamullah Kahn (1988), Aleksandr Solzhenitsyn (1983) e Madre Teresa de Calcutá (1973), além de inúmeros cientistas que contribuíram para o diálogo entre ciência e religião.

No seu artigo no Telegraph, Jonathan Sacks denuncia o objectivo político do Isis/Daesh: restabelecer o Califado e restaurar o Islão como poder imperial. Mas existe outro objectivo partilhado por muitos grupos jihadistas, acrescenta:

“Silenciar qualquer um ou qualquer coisa que ameace expressar uma verdade diferente, outra fé, uma diferente abordagem à diferença religiosa. É isso que está por detrás dos ataques aos “cartoons dinamarqueses”; aos católicos depois de um discurso do Papa Bento XVI; do assassinato de Theo van Gogh; e dos ataques ao Charlie Hebdo. O cálculo dos terroristas é que, no longo prazo, o Ocidente acabará por ficar demasiado cansado para defender as suas próprias liberdades. Eles estão preparados para continuar a cometer atrocidades por muito tempo, décadas se necessário.”

No final do artigo, Jonathan Sacks retoma o argumento do seu livro mais recente “Not in God’s Name. Confronting Religious Violence” (Hodder & Stoughton, 2015). Aí argumenta que “precisamos que pessoas de todas as fés expressem a sua oposição activa ao terror em nome de Deus.” Num apelo directo às comunidades muçulmanas, Jonathan Sacks conclui: “nenhuma religião genuína alguma vez precisou da violência para provar a sua beleza, ou do terror para estabelecer a sua verdade. Isto não é fé, mas sacrilégio.”

A posição de Charles Moore, na Spectator, acompanha este alerta de Jonathan Sacks. Moore conjectura que, para alguns políticos ocidentais, os ataques aos cristãos em países muçulmanos são um pouco embaraçosos. Muitos podem pensar que, se o Ocidente permanecer afastado das disputas religiosas, o anjo da morte não irá escolher-nos.

Mas a experiência dos judeus antes e durante a II Guerra, prossegue Moore, deveria ensinar-nos que a estratégia de transformar as vítimas em problema não dá resultado. E conclui: “os eventos em Bruxelas são um lembrete de que a neutralidade estudada torna-nos mais fracos, não mais seguros.”