Imagine a voz do David Attenborough a dizer isto de forma ininterrupta: o Campeonato da Europa encontra os seus mais remotos subsídios em 1952, quando os contactos internacionais decorriam ainda sob os auspícios de boa vontade de uns quantos fervorosos adeptos do futebol, para quem o intervalo entre cada edição do Mundial, de quatro em quatro anos, representava jejum de vulto. Nesse ano, o dirigente italiano Ottorino Barassi lançou a primeira pedra, ao liderar um movimento tendente à criação de uma entidade que superintendesse o futebol europeu, à boa maneira do que já acontecia do outro lado do Atlântico, com a Confederação Americana. Estavam lançadas as bases para a UEFA, nascida em 1954. Ao mesmo tempo, Barassi avançou com a proposta de realização de uma prova entre selecções europeias, numa réplica (em ponto pequeno) do Mundial, para o que contou com o apoio entusiástico do francês Henri Delaunay, então secretário-geral da recém-formada UEFA.

Henri Delaunay (que viria a falecer em 1955) teria no seu filho Pierre o continuador da tarefa, com vista à criação do Campeonato Europeu. Pierre Delaunay, juntamente com o espanhol Pujol e o húngaro Sébes, entre outros, formou uma comissão que, em Fevereiro de 1957, apresentou à UEFA o projecto em estudo. Aprovada nas suas linhas gerais, a competição arrancaria em Abril de 1958 para um percurso ininterrupto de 15 edições, com um crescente número de países inscritos. David Attenborough sai de cena.

Entro eu, agora. Faz hoje 60 anos, o nascimento do Europeu. A fase final, queremos dizer. Ainda só há quatro equipas. No dia 6, a URSS derruba a Checoslováquia sem dificuldade (3-0) enquanto a Jugoslávia surpreende a França em Paris (5-4). Surpreende, eis a palavra chave do Europeu. Ainda e sempre a melhor competição da história. E também a mais democrática. Basta ver o nome de alguns campeões inauditos. Como a Checoslováquia em 1976, à conta do penálti mais famoso de sempre, o de Panenka. Como a Dinamarca em 1992, repescada pela UEFA à última hora na vaga da Jugoslávia, suspensa pela Guerra dos Balcãs. Como a Grécia em 2004, graças a um cabeceamento de Charisteas vs Portugal, na Luz. Como Portugal em 2016. Todo o percurso é surreal. Desde o arranque da qualificação, com uma derrota vs Albânia em Aveiro, até ao golo do suplente Éder, numa final com a anfitriã França, na qual o capitão Ronaldo sai lesionado antes da meia hora. Pelo meio, os três empates na fase de grupos.

O Europeu reúne outros pormenores bem distintivos. Por exemplo, a Inglaterra tem cerca de zero títulos (e zero finais). Outro exemplo, a Itália nada ganha desde 1968. Mais, mais? Portugal passa sempre a fase de grupos. Sempre vezes sete: 1984, 1996, 2000, 2004, 2008, 2012, 2016. Dessas sete, só falha a meia-final em 1996 (chapéu de Poborsky) e 2008 (bis de Schweinsteiger). É obra. Como se isso fosse pouco, Ronaldo é um dos dois melhores marcadores da fase final, juntamente com Platini (9 golos). E é aquele com mais golos de cabeça (5), muito à frente da concorrência (Charisteas e Klose, 3). As curiosidades avançam com naturalidade. Volta a voz do David Attenborough.

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Único português a marcar ao serviço de três clubes?
Postiga
2004 Tottenham
2008 Porto
2012 Saragoça

Guarda-redes com mais golos sofridos de Portugal?
Cech, 4
2008 Deco
2008 Ronaldo
2008 Quaresma
2012 Ronaldo

Golos de suplentes portugueses de cabeça?
2000 Costinha ROM
2004 Ronaldo GRÉ
2004 Postiga ING
2008 Postiga ALE
2016 Quaresma CRO

Golos de capitães portugueses?
2008 Nuno Gomes ALE
2012 Ronaldo HOL
2012 Ronaldo HOL
2012 Ronaldo RCH
2016 Ronaldo HUN
2016 Ronaldo HUN
2016 Ronaldo GAL

Único golo sofrido por Portugal com o pé esquerdo e fora da área?
1984 Domergue FRA

Único golo jogador a marcar de livre directo em mais de um Europeu?
Zidane, 2000 (ESP) + 2004 (ING)

Único penálti a favor de Portugal?
2016 Ronaldo AUT (ao poste)

Único Euro sem 0-0?
1988

Último Euro sem expulsões?
1988

Único guarda-redes a defender penáltis no desempate em três Euros?
Buffon
2008 Güiza ESP
2012 Cole ING
2016 Müller ALE