Jair Bolsonaro foi um péssimo presidente do Brasil. Assentou a sua carreira política numa plataforma de confronto permanente e dividiu o país entre honestos e corruptos, bons e maus brasileiros. Nem sequer foi um político inteligente, na medida em que, após as acusações feitas contra Lula da Silva, não percebeu a oportunidade que tinha em mãos, a de se apresentar como um líder simples, conciliador, alguém pronto para fazer as reformas necessárias ao desenvolvimento do Brasil e que conduzissem à melhoria de vida dos brasileiros. Ser melhor que Dilma Rousseff não era difícil, mas a natureza humana é o que é e quanto a isso pouco há a fazer.

Posto isto, Lula da Silva está a ser um péssimo presidente do Brasil. Assentou o seu regresso político numa plataforma de confronto permanente e divide o país entre democratas e golpistas, entre bons e maus brasileiros. Nem sequer está a ser um político inteligente na medida em que, após o fracasso que foi o mandato de Bolsonaro, não percebe a oportunidade que tem em mãos, a de se apresentar como um líder simples, conciliador, alguém pronto para fazer as reformas necessárias ao desenvolvimento do Brasil e que conduzam à melhoria de vida dos brasileiros. Ser melhor que Bolsonaro não é difícil, mas a natureza humana é o que é e quanto a isso pouco há a fazer.

Só assim se compreende a reacção de Lula da Silva aos ataques de 8 de Janeiro, em Brasília. O actual presidente brasileiro já apelidou o seu antecessor de ‘psicopata’, e qualificou-o como alguém que ‘não pensa, não raciocina’, uma pessoa que ‘vomita coisas’. Por muito que seja verdade, Lula da Silva não se pode esquecer que é presidente do Brasil e a sua função não é persecutória, mas a de presidir a uma república federativa e a de exercer o poder executivo. Junte-se a esse alargado leque de poderes o papel simbólico de representante de um país e a responsabilidade acrescida do seu comportamento determinar o de boa parte dos brasileiros. Bolsonaro ignorou ostensivamente essa influência ou, melhor ainda, utilizou-a em seu benefício próprio, que foi a de dividir para reinar. Falhou. Ao que parece, Lula da Silva também não se importa de  falhar como ele. Tanto um como outro não passam de dois populistas que puxam pela sua base de apoio popular para se legitimizarem politicamente. O perigo é elevado, como a história bem o demonstra.

Michael Lind é um académico e professor norte-americano e a Tablet publicou há dias um artigo seu muito interessante sobre um fenómeno semelhante que está a suceder nos EUA. Lind refere-se aos utopistas que pretendem mudar a sociedade a partir de cima e que ignoram as pessoas e as comunidades que estas constituem. O ensaio vale a pena e merece leitura cuidada. Lind equipara os utopistas do Partido Republicano, que pretenderam espalhar a democracia pelo mundo, aos do Democrata que procuram capturar o governo para fazerem engenharia social com as políticas de género e as erradamente rotuladas de verdes e ambientais que visam alterar por completo o nosso modo de vida. Mas o mais interessante é o desafio que Lind nos apresenta, ou seja, o de os moderados se unirem contra os utopistas. Sejam de esquerda ou de direita, liberais ou conservadores, e até libertários na linha de Ayn Rand, crentes e não crentes, pequenos e grandes empresários, associações patronais e sindicatos, no fundo, a maioria dos cidadãos prejudicados com as utopias progressistas. Essa resistência deve ser não violenta, mas firme, sem concessões e pronta a entrar e estar no debate político sem complexos de inferioridade ou sentimentos de culpa.

Michael Lind considera este como um dos debates que vai marcar as próximas gerações e o futuro da democracia norte-americana. Trouxe-o para este texto porque o seu repto também se aplica a nós em Portugal e, naturalmente, aos brasileiros no Brasil. Porque se os moderados não forem fortes, firmes nas suas convicções e propósitos, a herança que deixarmos vai ser pesada.

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