Numa altura em que a saúde dos portugueses mostra sinais de preocupação, nomeadamente no número de portugueses sem médico de família, que atinge cerca de 1.300.00 pessoas, superando o número de Dezembro de 2015 quando registava 1.040.000 (dados do Portal da Transparência atualizados até Setembro e da ACSS) o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, prometeu no Parlamento “apresentar múltiplas medidas de natureza estrutural e conjuntural”. Algumas dessas medidas passam por “persistir no modelo USF [Unidade de Saúde Familiar] e facilitar a transição do modelo A para o modelo B, cujo desempenho é compensado com incentivos e admitindo a possibilidade de criar USF modelo C (gestão privada) temporárias para responder à falta de médicos de família. Outra medida passa pela abertura de mais vagas para formação de especialistas nas regiões mais carenciadas.

O Dr. Manuel Pizarro também se referiu, na conferência anual da Plataforma Saúde em Diálogo, com o tema “Saúde: Novos Caminhos, um Desígnio Comum”, a uma medida inscrita no OE2023, o desenvolvimento de “um mecanismo de renovação automática da prescrição para os doentes crónicos, numa interação SNS/farmácias de oficina”, ressalvando que a medida tem de ser analisada com “todo o cuidado do ponto de vista técnico”, com os médicos, com os farmacêuticos, com os enfermeiros.

Uma extraordinária medida, deste Governo, seria a contratação de farmacêuticos de família para as unidades dos centros de saúde, trabalhando com as equipas de cuidados de saúde primários, na qualificação da terapêutica, na articulação farmacoterapêutica com os farmacêuticos comunitários como acontece noutros países. Um exemplo concreto é o projeto iniciado pela USF São João do Estoril, que integrou uma farmacêutica na “Gestão do risco e otimização da polimedicação no doente idoso”, projeto que tem como objetivo combater a toma incorreta dos medicamentos, detetar sobreposição de terapêuticas, a necessidade de desprescrição ou de reajustamentos, decidindo em equipa com os médicos e enfermeiros da equipa de saúde.

Este é o momento de colocar à disposição dos portugueses o seu “farmacêutico de família” nos centros de saúde. Sendo um profissional de saúde alicerçado de várias competências que o habilita para o mecanismo de renovação automática da prescrição para os doentes crónicos, sendo o elo de ligação do médico prescritor com o farmacêutico na farmácia comunitária, na gestão e otimização da terapêutica, identificação e resolução de problemas com medicamentos, a revisão da medicação onde será de extrema importância o acesso aos dados clínicos do doente e da possibilidade de os comunicar com os profissionais dos cuidados de saúde primários e hospitalares com o farmacêutico na farmácia comunitária.

Perante o problema de termos mais portugueses sem médico de família associado às dificuldades de fixar jovens médicos de família e de nos próximos anos um número elevado de reformas de médicos de família surgirem, o “farmacêutico de família” seria um apoio fundamental para os nossos doentes nos cuidados de saúde, nos centros e unidades de saúde familiar.

Aproveitar todas as competências do Farmacêutico e colocá-las ao serviço da Saúde, como especialista do medicamento, proporcionaria otimizar o tempo das consultas de Medicina Geral e Familiar, diminuir o tempo de espera para a renovação da prescrição da medicação crónica, obter ganhos nos cuidados farmacêuticos e uma partilha multidisciplinar dos dados clínicos do doente, onde a Saúde, o Estado e os doentes sairiam a ganhar. Os cuidados farmacêuticos nas USF, orientados para a função responsável e clínica do farmacêutico de família nos ganhos de saúde do doente, é um conceito inovador e essencial neste momento crítico da Saúde.

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