A resiliência, a resistência, a superação, entre tantos outros, são características que fazem parte de um vasto leque que, recorrentemente, serve para descrever os mais importantes protagonistas do desporto: os atletas.

Independentemente do tamanho da lista de adjetivos que se possam entregar àqueles atletas (esses que tantas vezes são, por muitos, elevados a ídolos), na vida, como no desporto em geral, parte-se para o seu início sabendo que terá um fim, seja o de uma prova, ou da própria carreira.

Nesta bancada, assiste-se às prestações desses nossos ídolos, tentando ajudar como podemos, passando força, lançando frases feitas de incentivo e de motivação, gritando para fora e para dentro de nós, esperando que sejam esses atos que nos darão o resultado de sucesso que tanto queremos que aqueles alcancem.

Queremo-los no seu melhor, sempre. No entanto, apesar de pensarmos que se perpetuarão eternamente, a verdade é que na vida, como na competição, a indefinição é uma variável que se impõe a ambos os espetáculos e, por esse motivo, nem sempre a prestação desportiva se pode manter ao nível que queremos nem tão longa quanto gostaríamos que perdurasse. Nessas vezes, a vida atropela a competição e a corrida termina mais cedo do que se pensava.

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Não é por esse motivo, porém, que deixaremos de estar cá para os apoiar, idolatrar, torcer, fazer tudo o que esteja ao nosso alcance para ajudar no seu percurso, mais ou menos acidentado. A cada embate que eles sofrem, faz parte do nosso condoído papel estar lá sempre a seu lado para os ajudar a reerguer. Mais rápido, mais alto e mais fortes, impedindo que as amarras da mente os façam conformar ou desistir.

Esperamos que perdurem no seu esplendor, sem sequer nos passar pela cabeça que são seres humanos e que, seguramente, não farão parte do espetáculo para sempre, mesmo que tudo façamos, às vezes tardiamente, para não perder um segundo das suas prestações ou um momento na sua companhia.

Quando na vida nos confrontamos com o sofrimento e dificuldades de um ídolo, perdemos o Norte e tentamos compensar aquilo que pensamos ter sido falta do nosso apoio e ajuda. Reforçamos a nossa presença na bancada e tentamos de tudo para aliviar o transtorno por que passam. Passamos em revista os os seus grandes momentos, em vídeos, fotografias e todos os suportes que nos façam avivar as memórias que despertam as lágrimas de saudade antecipada.

Tanto nós, como eles, não podemos fazer mais nada se não valer-nos do que temos mais à mão. Arregaçamos as mangas, levantamos a cabeça, consciencializamo-nos da situação e recorremos à superação para ultrapassar o que se assemelha a um combate de uma vida, repleto de várias rondas, de quedas ao tatami, repescagens de esperança e gritos de revolta.

Na corrida de obstáculos que é a vida, tal como no desporto, a resiliência é elemento fundamental para atingir os objetivos e garantir que se adie o momento em que o pano descerá para nunca mais se erguer.

Quando o cancro (aquilo que continua a ser visto como sentença e não como uma doença) entra no quotidiano de alguém como nunca antes tinha estado, até ao momento imediatamente anterior a saber-se de tal notícia não se sabe o que é estar nessa situação.

Qualquer um que por ela passe, e todos os que o rodeiam, precisam de ajuda, precisam de ser preparados para acomodar algo que alterará para sempre a sua vida. Precisam de aprender a ser atletas de alta competição e aguentar as maiores provações mentais e físicas. Precisam de aprender a fazer das tripas coração e, assim, conseguir rasgar um sorriso quando só os olhos querem abrir a barragem de tristeza contida.

Espero, genuinamente, que para cada atleta, do desporto e da vida, haja sempre um grande grupo de adeptos que não arreda pé no apoio incondicional até ao fôlego final.

João Pedro Maltez é advogado, pós-graduado em Direito desportivo e é atualmente assessor no Comité Olímpico de Portugal. Tem 29 anos e juntou-se ao Global Shapers Lisbon Hub em 2020.

O Observador associa-se aos Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. O artigo representa, portanto, a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.