Hoje gostava de vos falar de todas as pessoas que não têm Verão. Não porque entendam que ele não existe. Não que — para elas, também — os dias não sejam grandes e solarengos. E as esplanadas, à beira do mar — entre uma garfada de peixe grelhado, o pôr do sol e o barulho das ondas – não apeteçam. E o som da manhã não chegue claro, acompanhado do  fresco e do cantar dos pássaros, e que isso não lhes aqueça a alma e as arrepie. Ou que a pele morena não as envaideça e não as leve a sentirem-se mais luminosas e mais bonitas. E que o estar descontraído não deixe de lhes parecer que o tempo tem, afinal, o colarinho desapertado. E que a vida deixe de se medir menos pelas horas que passam e mais pela forma como o sol que as toca por dentro as põe, inquietas, a fervilhar.

Hoje, gostava, ainda, de vos falar das pessoas que vão e vêm de férias sem terem entrado nelas. Das que regressam de férias com a sensação de virem mais abatidas e com mais cansaço. Das que guardam para si a responsabilidade de dar férias a todos aqueles que lhes são importantes, esquecendo-se elas (e eles) do seu lazer. Das que não gozam da benevolência de não olhar para o relógio nem do direito à preguiça, que as férias reconhecem como universal e para todos.

Das que, mal acordam, correm para conquistar uma espreguiçadeira de piscina ou um palmo de terra, plantando a sua toalha e as da família. Ou das que, mesmo que se façam à estrada, de férias, levam, tensas e assoberbadas, até à praia, o pó dos dias colado a si. Ou das que vivem as férias de sobrolho carregado. E que, mesmo de férias, em vez das ondas, “surfam” o gosto imenso de as azucrinar. Ou das outras que, como as que fazem jogging todos os dias, barafustam, diariamente, por tudo e por nada. Seja num supermercado, numa rotunda ou na fila de um restaurante.

Ou daquelas que invadem o nosso “cantinho”, na areia, e são altivas ou arrogantes. E nos pregam os olhos e parecem criticar qualquer movimento da nossa parte como se tudo em nós as incomodasse. Ou das demais que varreram todo o lixo das suas relações para debaixo do tapete dos dias. E deixam, também, de férias “A conversa” sobre todas as conversas que evitaram ter, ao longo de todo o tempo, de Verão a Verão. E das que alimentam a ideia de que o sol cura tudo aquilo que não fizeram. Ou que o amor pode estar de férias o ano inteiro que, como qualquer emigrante corroído de saudades, fará com que o romance regresse no Verão, para as saciar.

Hoje gostava, finalmente, de falar convosco das pessoas que vão de férias mas que regressam sem terem estado no Verão! Daquelas que não se empoleiram nos sonhos. Das que não fazem planos. Das que não elegem um desejo e mais outro para conquistarem. Daquelas que não encontram trilhos de histórias entre pegadas, pela areia. Daquelas que não riem. E das outras que entram em silêncio no Verão e que, de lá, saem ainda mais caladas. Daquelas que não entendem o Verão como um Ano Novo. E que não saem dele com a sensação que a vida, sem lhes fazer favor, só olha para elas.

Hoje gostava de vos falar das pessoas que — em função de obstáculos, de limitações diversas ou, simplesmente, do seu sofrimento — acabam por sentir que o Verão, quando nasce, não é para todos. Não que com isso pretenda plantar nuvens sob o vosso sol. Não! Mas para vos sugerir que o aproveitem como nunca. Com paixão. E com ganas de vida. Porque o Verão que, hoje, vos enche de luz, amanhã pode não brilhar assim. E porque, sem Verão e sem férias, o ano — que, agora, “começa” — perde toda a graça. Bom Verão! Boas Férias! Feliz “Ano Novo”!!

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