Usando uma analogia gastronómica, retrato neste título o que é e para onde deve evoluir a floresta portuguesa. Floresta sensu lato, que muito vezes confundimos com o próprio território, por ser o seu uso mais representativo e o principal driver de integração das suas diversas dinâmicas: económicas, sociais, ambientais e climáticas.

Sendo estes quatro pilares do território e da floresta de importância equivalente, a ordem em que os colocamos não é aleatória e os resultados que podemos e queremos alcançar estão intimamente dependentes do respeito pela mesma.

Uma floresta “à Portuguesa”, porque tal como no(s) multifacetado(s) “Cozido(s)”, existem muitas florestas em Portugal, em que a plasticidade das principais espécies com valor económico, asseguram opções de complementaridade, em mosaicos de menor risco, integrando a diversidade de usos agrícolas e protegendo os valores de conservação relevantes em cada geografia. Tal como no Douro não iremos florestar vinhas com benefício, também no Alentejo não é opção não utilizar racionalmente a água e o regadio potenciado pelo Alqueva. As “florestas” do Norte, do Centro ou do Sul, não se beliscam, são diferentes, são opções determinantes em todas essas regiões e precisam de instrumentos de política diferenciados e efetivos. Sobreiros, pinheiros, eucaliptos, azinheiras, carvalhos ou castanheiros não são exclusivos, mas sim complementares. E a floresta de conservação não é, na maioria dos casos, uma opção transversal por si só. A conservação, em Portugal, decorre da dinâmica económica e do bom planeamento, que a protege e promove – o Montado é disso o exemplo primeiro.

Uma floresta “com Todos”, porque o maior veículo de redistribuição de valor acrescentado nacional ao longo do território só se potencia se o olharmos em modo inclusivo:

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  • O Estado nas suas funções de legislador e regulador, atento à evolução social do território, defendendo os cidadãos das modas e de mudanças experimentalistas, com forte capacidade técnica, alicerçado em estruturas regionais conhecedoras;
  • Fileiras industriais dinâmicas, que criam valor e o transmitem à base produtiva, ao tecido socioeconómico e ao território;
  • Um tecido produtivo profissional, que assegure uma economia dinâmica, numa atividade balizada por padrões adequados de responsabilidade social e ambiental, e suportado por uma malha associativa forte que, por agregação de esforços e vontades, permita minimizar os impactos negativos da nossa estrutura fundiária, sem escala e geradora de ineficiências aos mais diversos níveis;
  • Cidadãos informados e Organizações esclarecidas, porque as soluções que propomos e comunicamos devem ser as mais credíveis, as tecnicamente mais bem suportadas e as que numa evolução consistente, permitam, reforçando as dinâmicas socioecónomicas, assegurar os benefícios ambientais e contribuir para as metas climáticas.

A voz do povo deixou há décadas atrás uma mensagem clara, em alentejano puro, no muro do que viria a ser a futura barragem do Alqueva. É a hora dessa voz esclarecida reclamar o mesmo pela floresta e pelo território.

Recentemente 25 organizações – associações, empresas, universidades – juntaram-se no COMPROMISSO FLORESTA 2030 para dar corpo a essa voz. Em março, plantaram árvores, de todas as espécies, dando-lhe vida, e em abril abrimos este desafio à Sociedade, contando com todos para o concretizar no espaço de uma década.