Há muitos, muitos anos fui almoçar com um amigo a um restaurante barato, para as bandas de Carnide. O empregado trouxe-nos a lista e houve uma coisa que nos chamou a atenção: a existência de um “Frango à Covan”. Como o restaurante não se chamava “Covan”, perguntamos-lhe como era o tal frango. “É um frango cozinhado com vinho”, esclareceu-nos. A luz fez-se nos nossos espíritos. Tudo se explica.

Não conto esta história para gozar com a ignorância alheia. Uma das dolorosas experiências da vida , felizmente cada vez mais rara, foi a de descobrir que muitas vezes me ri da suposta ignorância dos outros sem razão alguma, quando eu próprio era o ignorante. Sou um tipo sensível. A descoberta desse facto foi-me sempre tão desagradável, quase fisicamente desagradável, que me começou a inibir qualquer gozo no capítulo, mesmo quando inteiramente legítimo.

Resta a pergunta, perfeitamente interessante: como é que coq au vin se transforma em “covan”? Deixo de lado a questão da ignorância propriamente dita. Não é interessante. Mas há mais alguma coisa aqui. “Covan” é fácil, e a simplicidade compensa, numa certa medida, a ausência de sentido. Desse ponto de vista, “Frango à Covan” é óptimo. É eficaz. É impossível errar ao pronunciar a expressão, e o risco indelicado do “cócóvim” encontra-se definitivamente arredado.

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