O querido mês de agosto está a acabar e com ele o tempo em que, por muito grave e difícil que seja a realidade nacional, ninguém quer saber. A época agora é de rentrées antecipadas nos jornais para aguçar o apetite. Quem lê as notícias fica com a sensação de que agora é que os partidos políticos descobriram a pólvora e vão apresentar soluções para os problemas que eles acham que afligem os portugueses ou, pelo menos, que têm potencial para lhes dar votos.

Os membros do Governo passaram o mês de agosto a fazer contas para poderem fazer grandes anúncios sem dar quase nada aos milhares de portugueses que estão a passar mal com a crise. A realidade que o Governo não quer enfrentar é que um país pobre não pode ter vida de rico. E para chegar a rico tem de ter algum plano, objetivo ou desígnio que se vejam. E é isso que o Governo não tem para dar.

A pobreza de ideias e de propostas é igual nos partidos da oposição, apesar de neste momento devermos dar o benefício da dúvida à nova direção do PSD que ainda não teve tempo de mostrar ao que vem. O PCP vai dar eco nos próximos dias, na Festa do Avante, ao seu grande desígnio de voltar à rua e dar corpo à grande luta dos trabalhadores. O BE aposta tudo na agenda ecológica e fraturante. O Chega vai animar as hostes com mais um melodrama do grande líder que, depois de ter passado o verão a expulsar tudo o que mexeu sem sua autorização, agora quer que os militantes o aclamem de novo. Vai ser assim de seis em seis meses. André Ventura tem qualquer coisa de Kim Jong-un. A IL vai apostando nos cartazes originais, sempre contra a excessiva carga de impostos, mas sem uma receita para o futuro do país.

Este ano já foram muitos os portugueses que acharam mais prudente ficar em casa nas férias para não gastar os poucos recursos que lhes restam. Os que ainda foram de férias enfrentam agora o início de mais uma crise sem que tenham ainda tido tempo para recuperar das últimas. Mas o pior de tudo não são as dificuldades presentes, é a falta de esperança num futuro que não vislumbram porque o país político não lhes abre nenhuma janela.

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O mais triste desta rentrée não são as dificuldades. É a certeza de que sem estratégia e sem objetivos que mobilizem toda a sociedade, o futuro será sempre pobre e triste. Tão pobre e tão tristes como foram as declarações das nossas governantes nos últimos dias. Mariana Vieira da Silva, número dois do governo, consolou-nos com ar ligeiro dizendo que agora, depois de arder, é que a Serra da Estrela vai ficar mesmo boa. A Secretária de Estado da Proteção Civil veio à televisão dizer, com ar triunfal, que o que ardeu em Portugal foi muito pouco! (não sei se para o que merecíamos).

Portugal está nisto. É pouco e é mau. Os velhos estão tristes e desamparados. Os jovens, de bilhete de avião comprado para uma qualquer paragem no mundo que lhes prometa um futuro. Enquanto isto, os americanos descobriram Portugal como a nova Califórnia: vive-se bem, é barato e os negócios podem ser geridos à distância.

Dom Afonso Henriques, que se zangou com a mãe para apostar neste país, deve estar a lamentar-se por ter tido tanto trabalho para acabarmos nisto.